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sábado, 3 de novembro de 2012

Entrevista Erick Silva






Erick Silva
Erick Silva Diretor e coreógrafo da Cia In-Pulso de Dança e da Mostra Dança.


LB: Bailarino e coreógrafo a tantos anos, conte para nossos leitores quando e onde você começou a dançar?


ES: Iniciei meus estudos em dança em Recife, Pernambuco, no Centro de Dança Maria da Conceição, quando tinha 8 anos. Lá estudei todas as danças populares, danças afras e ballet, além de percussão.



LB: Quais foram os profissionais que mais influenciaram na sua carreira:


ES: Ubiraci Ferreira (diretor do Bacnaré – Balé de Cultura Negra de Recife) foi o meu primeiro diretor, onde eu comecei a ter meu primeiro salário, foi onde me abriu portas para que eu pudesse viajar para a Europa. Depois dele, vem Monica Lira (diretora da Cia. Experimental), que me mostrou qual a linguagem da dança contemporânea e do ballet atual. Também o Maracatu Nação Pernambuco que me ajudou na transição Brasil-Europa.
E desde 1996, Liliane Benvento tem sido minha maitre de ballet, uma das pessoas que influenciou muito na linguagem que eu trabalho atualmente. Mas tenho que agradecer a todos os professores que já passaram na minha vida, entre eles Zic, Daniel Bratt, Marcos Verzani, Renato Paroni e todos os outros que não terei espaço para citar, mas que de alguma forma me ensinaram tudo que eu sei.


LB: Nas escolas que estudou enquanto estava no Brasil, quais repertórios clássicos teve a oportunidade de dançar?


ES: Dancei Corsário, Don Quixote, Ídolo de Bronze entre outros, mas só na época de escola. Sempre trabalhei em cias neoclássicas e contemporâneas.



LB: Sabemos que você foi ainda muito jovem pra Europa, como apareceu essa oportunidade e quais os benefícios que trouxeram pra sua carreira?


ES: A oportunidade surgiu através do Bacnaré – Balé de Cultura Negra, dirigido por Ubiraci Ferreira. Fomos fazer uma turnê de 6 meses pela Europa, representando o Brasil nos Festivais da CIOFF, onde participavam inúmeras cias do mundo todo. Neste período eu fiz contato com um dos professores da Alemanha, e ele me ofereceu um contrato para uma curta temporada para a Cia. Daniel Bratt (Alemanha) e foi depois disso que as portas se abriram pra mim. Através dessas oportunidades eu comecei a entender e viver o real mundo da dança.


LB: Na volta ao Brasil, teve a oportunidades de trabalhar em grandes cias e ao lado de grandes nomes da dança. Por onde começou essa trajetória?
Quando voltei vim para o Studio 3 e então fui contratado pelo Cisne Negro Cia. De Dança para uma temporada. Depois fui trabalhar na Cia do Ismael Guiser, e então fiz audição pra Deborah Colker, passei e me mudei pro Rio.
Saindo de lá, voltei pra São Paulo onde trabalhei com diversos coreógrafos e diretores como Anselmo Zolla, Ivonice Satie, Jorge Garcia, José Possi Neto, Zé Ricardo Tomaselli, Fernanda Chamma, Rosely Fioreli, Suzana Yamauchi, Miriam Druve e Liliane Benevento.


LB: Atualmente você faz parte Projeto Cia. In-Pulso, como esse projeto foi criado, a quem favorece, quais são os benefícios?


ES: O projeto Cia. In-Pulso é um projeto social junto com uma Cia de dança contemporânea.
O projeto social atinge todas as faixas etárias, desde crianças a idosos, o objetivo é formar bailarinos e/ou melhorar a qualidade de vida.
A cia é para bailarinos profissionais, e é a porta de novos talentos serem reconhecidos pelo mundo da dança. 


LB: Você ministra cursos em várias escolas, trabalha como Jurado em grandes festivais e é coreógrafo e ainda da aula. Qual sua modalidade especifica em todas essas funções?


ES: Dança contemporânea, Ballet Clássico e Danças populares.


LB: O que você tem a dizer sobre essa nova geração de bailarinos e bailarinas que surge a cada dia, que conselho você daria como jurado, o que precisa melhorar, o que os jurados querem ver?


ES: Essa geração tem uma preocupação muito grande com o físico, esquecem-se da alma. O que vejo de precário é o estudo sobre o que está sendo dançando, se um repertório, qual a história, qual período, o que expressar. Bailarino tem que ter ambos físico e muita arte.



LB: falando em bailarino, todo ano você organiza o Curso de Férias Mostra Dança- Método Russo, um curso de férias já conhecido e esperado anualmente. Quem estará esse ano ministrando as aulas, quais são as novidades pra janeiro de 2013? Quais as modalidades do Curso? Onde podem ser feitas as inscrições?


ES: Para o Ballet Clássico teremos a ex-solista do Bolshoi de Moscow e professora da Escola Coreográfica Estatal de Moscow – Galina Kozlova, os professores da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil – Denis Nevidomyy e Larissa de Araujo, além da Bailarina e professora formada pela Escola Bolshoi – Stefania Petry.
No jazz, Andrea Spósito (diretora do Grupo Raça) e Zeca Rodrigues. No teatro musical, Francisco Ribeiro (diretor da Cia. Brasileira de Teatro Musical), Kika Sampaio no sapateado e Michel Martins na dança de rua. E eu no contemporâneo.
O diferencial do curso de férias é que não tem montagem de espetáculo, é um curso focado em aulas, de 4 a 5 por dia de alto nível técnico.

  Mais informações e inscrições pelo site:  www.mostradanca.com

LB: Erick um recado especial para nossos leitores.


ES: É um prazer fazer esta matéria, mostrar um pouquinho do meu trabalho. E aos bailarinos que aproveitem cada momento da sua vida no meio da dança, aprendam diversos estilos e técnicas, pois o mundo da dança é muito grande e tem espaço pra tudo. Corram atrás dos seus objetivos com garra, lembrando mais que ontem e menos que amanhã!

Fotos: Bolhaset Produções.

domingo, 23 de setembro de 2012

Entrevista Cecilia kerche


Cecilia Kerche
Cecilia Kerche 1ª bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Embaixatriz da dança com titulo pelo CBDD, órgão vinculado a Unesco. Paulista radicada no RJ teve como Mestres, profissionais como Vera Mayer, Halina Bienarcka, Pedro Kraszcuzuk com quem é casada, entre outros. Dançou em vários países representado o Ballet do Brasil, Cecilia Kerche é considerada uma das maiores bailarinas de todos os tempos.




                                  
                                Luiza Bandeira entrevista Cecilia Kerche



LB: TRMJ. Você entrou prestando audição e em 3 anos conquistou o titulo de 1ª bailarina. Como foi lidar com tudo isso e como se preparou para conquistar o posto mais desejado pelas bailarinas?

CK: Quando entrei para o BTMRJ , ocupando o posto de corifée , sabia o quanto distante estava para chegar a ser Bailarina Principal , titulo este que tinha pretensão de alcançar até meus 25 anos. E exatamente dois meses após completar esta idade, fui promovida a Primeira Bailarina.
Na primeira temporada que me apresentava como Primeira Bailarina pude sentir o peso do que significa ter esta posição . Ao interpretar Giselle, ballet que já tinha dançado em minha graduação na escola e como Solista do BTMRJ, sabia que de agora em diante seria diferente ... Pois uma Primeira Bailarina não é somente a bailarina que faz o papel titulo de um ballet e sim a representatividade de uma instituição.



LB: Como é sua rotina atualmente no TRMJ?

CK: A rotina é praticamente a mesma ao longo destes 30 anos de carreira, aulas, ensaios e apresentações. A diferença deste momento para os anos anteriores é que após ter sofrido uma lesão muito seria que me afastou dos palcos por quase três anos, estou tendo que ter uma paciência enorme em reconstruir a bailarina que habita meu ser, ou seja, não tenho podido assumir muitos compromissos para dançar pelo fato de estar tendo que voltar aos poucos e com muita cautela.

LB: Dores musculares, lesões, desgaste físico, como você lida com isso, que método de prevenção utiliza pra prevenir total desgaste físico?

CK: Quem tem o físico como instrumento de trabalho, sabe que não passa ileso por uma carreira de exigências, os percalços mencionados por você são uma rotina na vida de uma bailarina e no meu caso sempre soube que aula de ballet é o que sempre me preparou para minha profissão. Tenho uma vida regrada, nunca consumi drogas, não bebo bebida alcoólica, minha alimentação é equilibrada e sei que o descanso faz parte do treinamento. Já cheguei a conclusão que o  desgaste é inerente a vida , porque quem faz ballet ou esporte , tem desgaste , quem não faz tem também ...então .... !!!!!



LB: Como anda sua agenda de apresentações, onde nossos leitores podem estar indo assisti-la dançar nos próximos meses?

CK: Como mencionei acima, tenho me apresentado pouco, mas com a grande alegria de ter retornado para o Corpo de Baile, voltado a dançar no palco do Theatro Municipal, dancei na comemoração dos 30 anos do Festival de Joinville, fiz algumas apresentações em festivais menores, mas de igual importância para mim e mais para frente terei uma apresentação no Mato Grosso e outra na Bahia e com grande expectativa para mais apresentações no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


LB: Festival de Dança de Joinville e Teatro Bolshoi, já é fato que todo ano podemos ter sua presença na cidade da Dança. Conte como é essa parceria com o Festival e fale sobre o festival 2012 e a apresentação do Ballet Raymonda ao lado da Cia do Ballet Bolshoi.

CK: Desde a primeira vez que me apresentei em Joinville em 1989, criei um vinculo muito especial com este Festival dancei algumas vezes mais  e outras vezes estive convidada como jurada e a partir deste ano , numa missão de muita responsabilidade , fazer parte do conselho artístico .
Já foram 15 apresentações, e esta com a Escola e Cia do Bolshoi, foi muito emblemática para mim, pois tive o dileto prazer de ser convidada e pude sugerir que meu partner fosse Denis Vieira, Solista do BTMRJ , porém formado pela escola do Bolshoi no Brasil , quando Pavel Kazarian e o Ely Dinis poderiam ter optado por um casal do Theatro Bolshoi da Rússia , que com certeza aceitariam com muito bom grado vir dançar aqui.



LB: Interprete de grandes repertórios eruditos, como define e dança contemporânea? De que forma ela afeta os ballets de repertório visto que a montagem para o mesmo tem custo altíssimo de figurinos, cenários, grande elenco?

CK: A dança contemporânea ocupa o seu espaço, tem a sua peculiaridade, onde a exigência física não é um fator preponderante, já o ballet contemporâneo pede que seus interpretes tenham intimidade com a plástica e destrezas do ballet clássico, ainda sem que o palco tenha que ser parte de uma historia. Agora o ballet clássico de repertorio, este sim exige total integração entre coreógrafos, ensaiadores, pianistas acompanhantes, artistas que elaboram os cenários, os que criam figurinos, técnicos de palco, com o elenco de bailarinos, que tem que ser um corpo de baile habituado a trabalhar junto por muitos anos, Solistas que devem ter total interação com os personagens que interpretarão, e os Primeiros Bailarinos que devem levar ao público a excelência da arte da dança que é narrar uma historia através de sua alta compreensão artística sem dizer uma única palavra, tudo através da musica que deve ser apresentada por uma orquestra especialista nos grandes mestres, tendo a frente um Maestro com extrema sensibilidade. Por isso acho que cada qual ocupa seu lugar, um sem competir com o outro, ou deveria ser assim ... Porque deveria ser o objetivo principal, se ter mais companhias empregando bailarinos e assim oferecer ao público essa diversidade que é a dança, porque na Europa, Estados Unidos e Ásia, os custos também são altos para ballets de grandes produções, mas nestes lugares a dança é encarada como indústria do entretenimento e tem que dar lucro!!

LB: Qual a importância da formação em Dança Clássica para a dança Contemporâneo, visto que alguns ainda julguem que não é necessário fazer ballet pra se dançar contemporâneo.

CK: Tudo vai depender da proposta coreográfica, mas é impossível para alguém que nuca tenha feito aulas de ballet , e muitas aulas de ballet mesmo, dançar qualquer coreografia de ballet contemporâneo em sapatilhas de pontas ou não. Pois um piloto não vai voar um Boeing  se ele não tiver conhecimento dos instrumentos de vôo.



LB: O que falta para o TMRJ seguir exemplos como a Ópera de Paris com grandes espetáculos e ricas produções. O TMRJ é único no Brasil com Orquestra, coro e técnica e raramente conseguimos assistir grandes produções. Governo? Incentivo? Administração?

CK: Falta de fato só seguir os exemplos que ai estão e que pode ser exatamente o Teatro que você  citou e usar a formula que lá se usa e que da certo, porque a beleza da CASA já temos , inclusive o Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inspirado no teatro francês  . Mas tem que ser seguido a risca, kkkkkk !!!!

LB: Quais suas metas pra 2013, muitos trabalhos para o ano que se aproxima?

CK: Espero que sim !!



LB: Em outra conversa perguntei-lhe uma vez se você tinha interesse em ter uma escola, uma Cia. E você me respondeu: Não, quero morrer como interprete de Teatro que eu amo tanto, dando o meu melhor.
Hoje em dia a resposta seria a mesma ou jovens bailarinos podem ter chance de sonhar em um dia dançar em uma Cia dirigida por Cecilia Kerche?

CK: Gente eu disse isso mesmo ??? aiaiaia !!!  minha intenção é continuar no meio da dança sim , gosto muito de ensaiar passar minha energia , incentivar aos bailarinos a conseguir encontrar o seu melhor, quem sabe ....

LB: Para nos despedimos uma mensagem especial aos nossos leitores, bailarinos, fãs e amantes da dança.

CK: Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.
 Confúcio




Querida, que Deus te ilumine. È sempre mt bom falar com você, gostaria que todos pudessem ver que por trás de todo esse brilho existe uma pessoa doce e gentil e sempre pronta pra nos receber. Meu carinho e admiração.
                                                                        c/ amor Luiza Bandeira





A venda nas livrarias!
                                     







domingo, 26 de agosto de 2012

Sergio Marshall




Entrevistado: Sergio Marshall

                 Sergio Marshall e Luiza Bandeira - Teatro Bolshoi Brasil

LB: Bom, quem é Sergio Marshall, 1º Bailarino do TMRJ, Coordenador Artístico do Ballet A Criação do TMRJ, professor, ensaiador... Com que idade começou a dançar e onde?

SM: Bom dia Luiza. Vale fazer algumas retificações. Embora tenha atuado em quase todos os papeis principais do repertório do TM, não tinha o cargo, pois esta promoção ficou “congelada” durante muitos anos e atualmente já não atuo mais no TM, apesar de ter passado por todos os cargos da hierarquia, desde corpo de baile até Diretor Artístico.
Comecei a dançar em Porto Alegre aos 18 anos com a professora russa Marina Fedossejeva. O interessante na minha formação é que ela foi aluna direta de Agrippina Vaganova, que foi quem desenvolveu a Metodologia Vaganova do ensino do ballet clássico, até hoje uma das metodologias mais respeitadas e eficientes. Além dela, ainda em Porto Alegre, foi muito importante na minha formação a atuação do mestre Walter Arias, bailarino uruguaio, de muita personalidade e ensino técnico impecável, qualidades que agreguei à minha carreira e prezo muito num bailarino.



LB: No Caminho para sua formação profissional, quais Ballets de repertório você dançou e quem  interpretava?

SM: Acho que já dancei todos, rs, e fiz desde vendedor de lenços, meu primeiro papel no corpo de baile do TMRJ, na versão de Don Quixote de Dalal Aschar, até os papéis principais em O Quebra Nozes, Floresta Amazônica, Coppélia, La Sylphide, Grand Pas Classique, Giselle, La Fille Mal Gardée, onde interpretei tanto o papel de Colas quanto o de Alain, pelo qual fui indicado para o prêmio Mambembe, Don Quixote, O Corsário, inclusive com este papel ganhei diversos prêmios na Primeira Edição do Concurso do CBDD, há muitos anos, que foi na verdade o primeiro concurso de dança realizado no Brasil. Vale ressaltar que ao longo da minha carreira dancei em muitas companhias que não eram de repertório clássico, como o Ballet Stagium, Cisne Negro, Balé da Cidade de São Paulo, Ballet do Teatro Castro Alves, onde pude explorar inúmeras possibilidades técnicas e artísticas além das proporcionadas pelo repertório clássico do TM. Com estas companhias tive a oportunidade da dançar por todo o mundo, da América do Sul à Europa, o que me enriqueceu ainda mais enquanto artista.

LB: Fale das dificuldades que teve como bailarino, seus obstáculos e como superou todos eles.

SM: As dificuldades foram muitas, desde a minha origem humilde, a difícil aceitação pela família, e as dificuldades inerentes à formação de um bailarino, como as limitações físicas, a busca de uma formação mais aprimorada pelo fato do meu inicio tardio, pois naquela época eram poucos os bailarinos homens que tinham a oportunidade de se iniciar cedo nos estudos do ballet. E acho que superei isso tudo porque sou extremamente teimoso e insistente, o que não deixa de ser bom para um bailarino, pois sabemos que os obstáculos são muitos e não podemos desistir no primeiro.

LB: Como se tornou 1° bailarino do TMRJ e quais foram os cargos assumidos e dirigidos por você na história do ballet do TMRJ?

SM: Como já disse anteriormente, já passei por todos os cargos do TM. Comecei como corpo de baile, passando por corifeu, solista e primeiro solista, onde atuei como primeiro bailarino em quase todas as produções da companhia, e passei de vendedor de lenços a príncipe em menos de um ano, dividindo o palco com estrelas do ballet como Ana Botafogo, Cecília Kerche, Julio Bocca, Fernando Bujones, Jean Yves Lormeau, Marcia Haydée, Richard Cargun, Elizabeth Platel entre outros. Num segundo momento também exerci os cargos de professor, ensaiador, assistente de direção e finalmente diretor artístico, e foi nesta ocasião que trouxemos pela primeira vez para uma companhia de fora da Europa o ballet A Criação, do coreógrafo Uwe Scholz, que no ano seguinte foi também apresentado em Joinville com enorme sucesso e grande comoção do público.

     Teatro Bolshoi Brasil, Sergio ministrando aulas de ballet clássico e ao fundo o ilustre Pianista Eduardo Boechat.

LB: Quais foram os professores mais importantes, os que mais influenciaram no seu desenvolvimento profissional?

SM: Meus professores em Porto Alegre foram fundamentais, é claro, mas já fora do RS e já atuando como profissional, uma vez que entre meu início como aluno e a conquista de meu primeiro contrato profissional, no Teatro Guaíra, foram apenas 3 anos, tive a oportunidade de trabalhar com grandes mestres como Carlos Trincheiras, Jair Moraes, Hugo De La Valle, Aldo Lotufo, Tatiana Leskova, Eugenia Feodorova, Jane Blauth, Jorge Siqueira, Ismael Guiser, entre tantos outros aqui no Brasil e na Europa, como no Mudra, em Bruxelas/Bélgica, que na época era a escola do Ballet Béjart, que se chamava Ballet du XXIéme Siécle, na École de Danse do Ballet de Zurich/Suiça, e além disso nos EUA, com aulas em NY no Joffrey Ballet School.



LB: O que  acha da dança no Brasil, das escolas, espetáculos, festivais, acha que estamos caminhados para um futuro promissor ou o Brasil ainda está muito atrasado em relação a outros países?

SM: A dança no Brasil evoluiu muito desde que eu comecei. Os bailarinos hoje estão em pé de igualdade com as grandes estrelas mundiais. Os festivais são um meio muito importante de fomento à dança, com a troca de experiências e conhecimento, apenas com um senão: a ênfase demasiada a altura das pernas e o número de piruetas, em detrimento ao verdadeiro sentido da dança, que é a arte, uma vez que a técnica é tão somente um meio para se chegar a um fim mais profundo, a arte.

LB: Cite o nome de alguns bailarinos que você acha que mereciam destaque na dança no Brasil, mas infelizmente ainda ficam escondidos por causa da falta de oportunidade?

SM: Eu acho que os bailarinos que já atingiram um nível artístico mais consistente já estão conseguindo este reconhecimento, apenas aos que são muito jovens e ainda não muito lapidados falta esta visibilidade, que virá, se não aqui no Brasil, onde o mercado é pequeno, nos palcos do mundo inteiro. Lembrando que uma medalha num concurso não é uma garantia, mas apenas um passo para este aprimoramento artístico.

LB: Atualmente  está ministrando cursos, dando aulas, fale um pouco sobre os novos projetos?

SM: Atualmente, junto com a minha esposa, eu abri meu próprio estúdio de dança, na cidade de Teresópolis/RJ e além disso tenho dado aulas como professor convidado em academias e companhias profissionais, como mais recentemente o Ballet de Niterói, a São Paulo Companhia de Dança, a Cia Jovem do Ballet Bolshoi no Brasil, e amanhã mesmo estarei embarcando para minha segunda temporada como professor de Ballet Clássico no Festival de Dança de Joinville.

LB: Deixe uma mensagem especial para nossos leitores

SM: Presumindo que a maioria dos leitores seja de bailarinos e/ou estudantes de dança, o que eu posso aconselhar é que façam muitas, muitas, muitas aulas, enfatizando sempre a limpeza e a correção dos movimentos de base, e que, além disso, também leiam muito, assistam bons filmes, boa música, adquiram cultura geral, que dará maior consistência e peso artístico à sua dança, afinal, as partes mais importantes do corpo de um bailarino ainda são o cérebro e o coração.

 LB: Querido Sergio, meu mt obrigada por esse momento delicioso, c/ essa conversa maravilhosa sempre enriquecendo nosso trabalho e  trazendo novidades para nossos leitores. Fica ai mil beijos e mt luz no teu caminho, ainda temos mt trabalho juntos esse ano se Deus quiser bjs lu 




domingo, 5 de setembro de 2010

Luiza Bandeira entrevista, Marcelo Misailidis 1º bailarino TMRJ


Um dos principais nomes do balé brasileiro o 1º bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Marcelo Misailidis está aqui hoje em uma entrevista exclusiva contando um pouco dessa bela carreira de sucesso.
     



LB: Marcelo você sempre sonhou em ser bailarino, ou foi uma coisa que aconteceu devido às influências do dia a dia?

  

MM: Não nunca sonhei ser bailarino, num determinado momento da minha vida o ballet me encantou por diversos motivos... minha primeira namorada fazia ballet e quando ia buscá-la aquele universo me envolvia, estar com ela a musica o movimento o romantismo...acabei apaixonado por a esse mundo.

Eu já apreciava muito musica clássica, arte de modo geral, praticava esportes e ao mesmo tempo queria fazer algo que fosse original e decidido espontaneamente por mim... foi assim que tomei coragem e iniciei o Ballet.






LB: Começou a estudar ballet no Uruguai ou aqui no Brasil? Qual a 1ª escola que estudou e quem foram seus professores? Que idade tinha nessa

época?

  

MM: Cheguei ao Brasil com 6 anos de idade, e comecei ballet quase aos 17 no interior de São Paulo numa cidade chamada Americana. A minha primeira professora achou que eu não teria futuro e após um mês me disse pra desistir. Fui então para Campinas estudar no Ballet Lina Penteado, por onde estudei 8 meses, la conheci um bailarino fantástico chamado Othon da Rocha, ele foi o primeiro a acreditar em mim e perceber que poderia crescer muito profissionalmente se viesse para o Rio de Janeiro. Naquele final de ano de 1985, desiludido com o fim de meu namoro decidi aceitar o convite dele para fazer um curso de ferias com Aldo Lotufo aqui no Rio. Este curso, naquele período mudou a minha vida. 








LB: Qual foi seu 1º solo e o que sentiu ao ser escolhido, qual foi a sensação de estar sozinho no palco pela 1ª vez?



  

MM: Engraçado, mas eu não tenho isso claro como uma lembrança relevante porque a ascensão para os meninos era muito mais rápido do que para as meninas que tem muita concorrência, a carência de bailarinos permitia que você obtivesse inúmeras oportunidades, a questão talvez seja oportunidade de se apresentar em um espetáculo de qualidade. Lembro que me marcou muito a primeira vez que interpretei Albrecht, direção da Eliana Caminada e Erik Valdo, depois 

o mesmo personagem no TM.







LB: Como ingressou no TMRJ e como chegou a 1ª bailarino?

  

MM: Recebi um convite em 1991 de Dalal Achcar que dirigia o Theatro Municipal, naquela ocasião retornava da abertura do Festival de Joinville daquele mesmo ano, no qual participei de três noites de abertura dançando uma noite com cada bailarina Ana Botafogo, Cecília Kerche e Nora Esteves. Pelo fato de ter me apresentado com êxito junto às três primeiras bailarinas, isto me credenciou tecnicamente apto a assumir o convite, que na ocasião despertou certa ciumeira e ate mesmo ira por parte de alguns bailarinos da casa que não queriam aceitar a minha contratação diretamente a primeiro bailarino.

  




LB: Percurso de bailarino para 1º bailarino, o que foi mais difícil, teve que abrir mão de muitas coisas, quais foram os maiores sacrifícios para ocupar tal posição?

  

MM: Acho que tive sorte e fui muito bem preparado na ABRJ (Associação de Bale do Rio de Janeiro) dirigida por Dalal Achcar que tinha na equipe o professor Jorge Siqueira e o metre Desmond Doyle. A primeira grande estrela que trabalhei foi a Nora Esteves ainda na ABRJ, portanto, não tenho do que reclamar... no entanto como mencionei na resposta anterior a chegada ao TM não foi nada tranqüila, alias nunca foi...






LB: Quem foram os professores e coreógrafos que mais contribuíram para sua carreira?

  

MM: Foram muitos, a formação de um bailarino profissional se faz na tradição e na convivência com grandes artistas, com quais se aprende muito com cada um deles, que acrescenta com sua visão artística e experiência de sua trajetória. Entre eles Aldo Lotufo, Eugenia Feodorova, Tatiana Leskova, Jorge Siqueira, Desmond Doyle, Erik Valdo, Rosália Verlangieri, entre outros, que muitas vezes trabalhei pouco tempo, mais contribuíram muito em diálogos e observações a respeito da dança ...

  





LB: Entre suas companheiras de palco Ana Botafogo é a mais presente, sempre é possível achar matérias que falem de balés realizados por vocês.

   Além da Ana existe alguma outra bailarina que você queira falar, que tenha sido importante para sua carreira e que tenha dividido o palco com você?

  

MM: Claro que a Ana foi a bailarina com quem mais convivi, mas seria injusto com as demais bailarinas não reconhecer a importância e a contribuição imensurável delas na minha formação, porque um espetáculo deve sempre ser apresentado pelos casais protagonistas com a maior intensidade possível, viver plenamente o momento da cena nas quais diversas vezes acontecem situações únicas que transformam a cena daquele momento, gerando uma maior doação dos interpretes e uma riqueza teatral maior ao espetáculo. Dividir a cena é fundamental para que nós mesmos possamos ser mais convincentes frente ao público, e mais felizes como profissionais e com certeza fui muito feliz com todas as minhas partners, seria mais fácil citar o contrario, com quem não me identifiquei, mas por uma questão de cavalheirismo e ética prefiro não citar ou comentar... obviamente reconheço que dancei proporcionalmente mais vezes com a Ana Botafogo do que com outras partners, em personagens de bales maravilhosos dentro e fora do TM o que pessoalmente muito me orgulha e realiza.

Mas, no entanto devo agradecer e citar alguns nomes em homenagem a cada uma delas com quem tanto vivi e aprendi.

Áurea Hamerlli, Beatriz Almeida, Betina Dalcanale, Cecília Kerche, Claudia Motta, Eliana Caminada, Fernanda, Laura Prochet, Márcia Jaqueline, Nora Esteves, Norma Pina, Roberta Fernandez, Roberta Marques, Silvina Perillo, Suzana Trindade entre outras caso tenha faltado aqui nesta breve lista.  A todas, o meu profundo agradecimento.

  






LB:Quanto ao preconceito o que é pior para um bailarino e qual foi o pior situação que você lidou por causa de pessoas preconceituosas?

  

MM: Não tenho nenhuma situação de preconceito que tenha presenciado que mereça algum destaque, acho que isto deve ter sempre sido algo velado, fruto de inveja por parte de pessoas que não tiveram coragem de se pronunciar ou mesmo pessoalmente dificuldades, de decidir por si mesmos suas escolhas e viver verdadeiramente o que se gosta.

  







LB: É fato que você fundou uma escola de danças em Juiz de Fora que carrega o seu nome. Porque Juiz de fora e qual a proposta oferecida pela, ela é pública, particular, oferece bolsas, procura novos talentos... Enfim o que acontece por lá?

  

MM: Sim, já tenho uma Escola de Dança em Juiz de Fora a mais de 13 anos em parceria com a minha mulher Danielle Marie.

A proposta é buscar oferecer um ensino de melhor qualidade, a todo aquele que tenha interesse de aprender ballet clássico de modo mais comprometido com uma formação séria, sem focar aspectos meramente comercias. A escola é particular, mas oferece bolsa a crianças talentosas, e tem um grande comprometimento com a responsabilidade de como trabalhar e cuidar do corpo do bailarino e da educação do aluno como um todo.

  










LB: O TMRJ e a sua vida, qual a importância desse lugar, e o que te deixa triste no TRMJ?



MM: Para qualquer bailarino clássico no Brasil, dançar no TM ainda é o objetivo profissional mais importante, comigo não foi diferente.

Grande parte da minha vida profissional se deu ali, grande parte da minha vida pessoal também teve sua interface no TM, portanto isto o torna uma referencia muito forte em minha vida.

O problema é talvez exatamente este, que o TM não pode ser visto ou compreendido como algo ao qual possamos estreitar tanto assim estes laços, porque cada um deve ter sua vida pessoal totalmente desvinculada do TM, limitar-se a ele unicamente de modo profissional, e reservar os demais vínculos emocionais independentes ao Teatro, que não pode e não deve confundir sua finalidade.

Esta confusa relação feita entre pessoas e o TM, é que invariavelmente deixa as pessoas infelizes e amargas. Não conheço quem tenha passado por lá, e que não tenha saído sem alguma magoa ou ressentimento. Isto se dá muitas vezes, por não se compreender que aquele espaço é da sociedade como um todo, e trabalhar nele deve ser encarado como motivo de privilégio, gerando no coração do artista generosidade, alegria e respeito e não um estranho sentimento de possessividade, egoísmo e apatia a tudo aquilo que não represente conveniência pessoal.

O TM é um templo para sonhar, e o equivoco pode muitas vezes levar o mesmo a um pesadelo.

  







LB: Trabalhos mais importantes no Brasil e exterior?



MM: Acho que a maior parte do repertorio do TM, Giselle, Megera Domada, Onegin, Romeu e Julieta, Dom Quixote, etc.

Nijinsky, trabalho solo dirigido por Fabio de Melo.

Romeu e Julieta de Tchaikovsky na versão de Marila Gremo e depois numa versão que eu mesmo coreografei pra mim e Ana Botafogo.

Meus trabalhos como coreógrafo em Comissões de Frente no Carnaval.

  





LB: Repertórios preferidos?



MM: Se tivesse que escolher um seria Eugenie Onegin

  





LB: Bailarinos e bailarinas que te inspiram, do passado aos dias de hoje?

  

MM: V. Vassiliev, M. Baryshnikov, R. Nureyev, Maia Plissietskaya, etc., e principalmente os

brasileiros Aldo Lotufo e Bertha Rosanova ( isto sim e que me inspirou),

Othon da Rocha, Ana Botafogo, Beatriz Almeida, Cecília Kerche, Nora Esteves e demais lista acima.

  





LB: Melhores momentos de sua carreira?

  

MM: Quase todos, eu amei de verdade.


LB: O que você não faria de novo por causa do ballet?
  

MM: O que eu não faria, não diria assim porque seria demais, mas diminuiria algumas noitadas, afinal de contas sou um artista um tanto às avessas, gosto vez por outra de uma boemia refletir e planejar projetos, jogar conversa fora até mais tarde quando o assunto é bom.

  






LB: Atualmente qual sua posição no TMRJ, e como andam seus projetos para o futuro?

  

MM: Sou artista concursado, com quase 20 anos de serviços prestados, de bailarino a diretor artístico do BTM, atualmente estou à disposição da direção para atuar no staff artístico da casa.

  






LB: Um conselho de alguém tão importante como você é extramente valido para tantos jovens rapazes que sonham em se tornar bailarinos, mais infelizmente estão cercados de preconceitos e dificuldades.

  

MM: Acredite nos seus sonhos, a vida é uma oportunidade para se realizar os sonhos, e não para meramente desejá-los.

  

LB: Como de costume uma mensagem sua para nossos leitores.



MM: Foi um prazer dividir este momento com vocês e partilhar de opiniões e experiências a respeito da minha vida e do bale de modo geral. Um grande abraço a todos.



                                                                                       Com carinho sua fã Luiza Bandeira.