Originado do balé francês e do italiano, principalmente de Petipa,
Blasis e Cecchetti, o balé russo é dotado de uma escola técnica e de um estilo
próprio. Seus princípios datam do começo do séc. XVIII, ao tempo em que foram
criadas as escolas dinamarquesa e sueca. As escolas imperiais do balé russo, de
São Petersburgo, Moscou e Varsóvia, mereceram desde o início uma atenção toda
especial dos czares e da aristocracia.
A organização, os métodos de ensino e o treinamento foram severos e
continuamente aperfeiçoados. Tais exigências técnicas aliadas aos dotes físicos
e ao temperamento do povo russo, e à riquíssima tradição de danças populares,
produziram em dois séculos um balé que assombrou o mundo.
Durante mais de 100 anos, os cultores do bailado na Rússia
obedeceram às normas de Paris. Seus mais importantes mestres foram: Carlo
Blasis, Landet (fundador da Escola Imperial de Dança de São Petersburgo),
Canziani, Didelot, Perrot, Saint-Léon e principalmente Marius Petipa, criador
das imortais obras Quebra-Nozes (1892), com Cecchetti e Ivanov, O Lago dos
Cisnes (1895), com Lev Ivanov, e A Bela Adormecida (1890) todos com música de
Tchaikovsky.
Ao mesmo tempo em que a técnica francesa e a italiana eram
absorvidas pelos bailarinos, formava-se um estilo russo de balé clássico,
unindo e modificando os dois estilos de origem. Igualmente a música de balé
ganhou seu maior compositor - Tchaikovsky, autor da maior parte dos grandes
bailados russos. E Petipa preparou uma constelação de bailarinos de talento,
como Gorsky, Legat, Fokine, Preobrajenska, Kchessinska, Karsavina, Chernichova.
Pelas mãos de Enrico Cecchetti passaram Ana Pavlova, Mathilde
Kchessinska, Olga Preobrajenska, Nicolas Legat, Lubov Egorova e Vaslaw Nijinski
- os maiores nomes da dança internacional. Cecchetti criou um método e um
estilo que ainda perduram.
A época imperial do balé russo culmina com a figura impressionante
de Sergei Diaghilev, grande organizador, diretor do bailado russo no exterior.
A ele se deve o impulso dado ao balé no inicio deste século.
Inconformado com as regras dos teatros imperiais decidiu reunir os
melhores bailarinos, mestres, coreógrafos, músicos, pintores e cenógrafos
russos e formou uma companhia sem igual para mostrar ao mundo a arte russa na
sua totalidade. Durante vinte anos, ajudado por alguns mecenas, maravilhou o
mundo inteiro e revelou talentosos dançarinos, músicos, libretistas e
cenógrafos, como Nijinski, Tamara Karsavina, Olga Spesivtzeva, Natalia
Dubrovska, Adolf Bolm, Aleksandra Danilova, Serge Lifar, Léonide Massine,
Stravinski, Glazunov Tcherepnine, Rimski Korsakov, Benois, Bakst, Korovin,
Serov, Gontcharova e muitos outros.
Fokine revolucionou a coreografia e realizou os ideais de Noverre.
Seu grande mérito foi o de dar um estilo para cada balé, e fundir por completo
a dança com a mímica. Para ele, a dança deveria ser interpretativa e não mera
ginástica brilhante, devia mostrar o espírito dos atores no espetáculo e também
a época a que pertencia o bailado. O balé não podia mais se constituir de
números ou entradas, mas ter uma unidade de concepção, formada pela amálgama
harmoniosa de três elementos - dança música e artes plásticas. Fokine foi o
criador do mais célebre bailado de Anna Pavlova - A Morte do cisne. Suas
produções totalizam 68 bailados representados, diversos deles, ainda hoje em
todo o mundo. Cada ano, Diaghilev renovava o repertório e também a cada ano o
público parisiense era tomado de um novo choque. Seus bailados se tornaram mais
e mais vanguardistas, e é Nijinski o iniciador do balé moderno. Embora tenha
brilhado somente até os 29 anos de idade (quando enlouqueceu), Nijinski, com
seus saltos aéreos, foi não somente o mais célebre bailarino de todos os
tempos, como um coreógrafo inovador. Seu "Prélude a l'après-midi d'un
faune" (“O repouso do Fauno” - 1912), com música de Debussy, causou
sensação, e muito mais ainda "A Sagração da Primavera", com partitura
de Stravinski (1913). A partir dele, os bailarinos clássicos deixaram de seguir
estritamente as regras da escola e passaram à estrada aberta da livre invenção
coreográfica.
Na verdade, é esse o primeiro bailado moderno, usando bailarinos da
mais refinada escola clássica. Nesse bailado foram usados os métodos da
eurritmia de Jaques-Dalcroze, gestos angulosos e retorcidos e os pés voltados
para frente e não para fora, como na escola acadêmica. Diaghilev montou, entre
outros bailados, todos famosos ainda hoje, alguns mais conhecidos pelo nome
original, outros pelo nome português: As Sílfides, Cleópatra, O Espectro da
Rosa, O Festim, O Pássaro de Fogo, Danças Polovitsianas, Scheherazade, Giselle,
Camaval, Petruchka, Dáfnis e Cloé, O Galo de Ouro, La Boutique Fantastique,
Jeux, Parade, Pavillon d'Armide, A Lenda de José, O Chapéu de Três Bicos. Fez
também a montagem de óperas.
Com a morte de Diaghilev (1929), sua companhia se desagregou
malgrado os esforços de Sergey Grigoriev e Nijinski, René Blum, diretor
artístico do teatro de Monte-Carlo, assumiu a direção de um grupo de
remanescentes. Ao mesmo tempo, o coronel De Basil formava em Paris companhia
rival. Em 1932, os dois grupos se uniram nos Ballets Russes de Monte Carlo. Aos
membros do balé de Diaghilev juntaram-se alguns elementos novos, como Tamara
Toumanova, Irina Baronova e Tatiana Riabochinska. Em 1933 a companhia fez uma
tournée triunfal pelos EUA, mas em 1935 cindiu-se. Com o nome de Ballets Russes
du Colonel de Basil, um dos ramos partiu para a Austrália e, depois, para as
Américas, do Norte e do Sul, onde se deixou ficar durante a guerra, assumindo
sucessivamente os nomes de Educational Ballet e Original Ballet Russe. Em 1947
fez uma temporada de despedida no Palais de Chaillot, em Paris. O ramo que
ficara em Monte Carlo permaneceu sob a direção de René Blum até a invasão alemã
(1940). Blum, judeu, foi preso em Paris e morreu em Auschwitz. Com os
remanescentes da companhia, Marcel Sablon constituiu ainda na ocupação, os
Nouveaux Ballets de Monte-Carlo, absorvidos (1944) pela Ballet International,
do marquês de Cuevas, companhia particular sediada em New York. Surgiu, assim, o International Ballet of the
Marquis of Cuevas, que fez inúmeras tournées internacionais e contribuiu para o
repertório do gênero com várias obras, uma das quais pelo menos de valor
perene: O Tristan Fou, de Salvador Dalí, coreografia de Massine.
Aos herdeiros de Diaghilev e a uma bailarina de gênio, Anna Pavlova,
que, a partir de 1913, excursionou com companhia própria, deve-se a
continuidade do balé na época.
Outros maîtres russos, radicados em Paris, tiveram também importante
papel. Preobrajenska, Kchessinska, Egorova, Trefilova, Legat e Novikolf formavam
grupos de jovens bailarinos. Novas obras nasceram então: Presséflos,
Choreartium, Francesca da Rimini, Sinfonia fantástica (música de Berlioz) e
outras. Uma das estrelas do Coronel de Basil, no setor da dança moderna, foi
Nina Verchinina, que em fins da década de 1970 ainda lecionava no Brasil.
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