Cecilia Kerche
Cecilia Kerche 1ª bailarina do
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Embaixatriz da dança com titulo pelo CBDD,
órgão vinculado a Unesco. Paulista radicada no RJ teve como Mestres,
profissionais como Vera Mayer, Halina Bienarcka, Pedro Kraszcuzuk com quem é
casada, entre outros. Dançou em vários países representado o Ballet do Brasil,
Cecilia Kerche é considerada uma das maiores bailarinas de todos os tempos.
Luiza Bandeira entrevista
Cecilia Kerche
LB: TRMJ. Você entrou prestando
audição e em 3 anos conquistou o titulo de 1ª bailarina. Como foi lidar com
tudo isso e como se preparou para conquistar o posto mais desejado pelas
bailarinas?
CK:
Quando entrei para o BTMRJ , ocupando o posto de corifée , sabia o quanto
distante estava para chegar a ser Bailarina Principal , titulo este que tinha
pretensão de alcançar até meus 25 anos. E exatamente dois meses após completar
esta idade, fui promovida a Primeira Bailarina.
Na primeira
temporada que me apresentava como Primeira Bailarina pude sentir o peso do que
significa ter esta posição . Ao interpretar Giselle, ballet que já tinha
dançado em minha graduação na escola e como Solista do BTMRJ, sabia que de
agora em diante seria diferente ... Pois uma Primeira Bailarina não é somente a
bailarina que faz o papel titulo de um ballet e sim a representatividade de uma
instituição.
LB: Como é sua rotina atualmente
no TRMJ?
CK: A
rotina é praticamente a mesma ao longo destes 30 anos de carreira, aulas,
ensaios e apresentações. A diferença deste momento para os anos anteriores é
que após ter sofrido uma lesão muito seria que me afastou dos palcos por quase
três anos, estou tendo que ter uma paciência enorme em reconstruir a bailarina
que habita meu ser, ou seja, não tenho podido assumir muitos compromissos para
dançar pelo fato de estar tendo que voltar aos poucos e com muita cautela.
LB: Dores musculares, lesões,
desgaste físico, como você lida com isso, que método de prevenção utiliza pra
prevenir total desgaste físico?
CK: Quem
tem o físico como instrumento de trabalho, sabe que não passa ileso por uma
carreira de exigências, os percalços mencionados por você são uma rotina na
vida de uma bailarina e no meu caso sempre soube que aula de ballet é o que
sempre me preparou para minha profissão. Tenho uma vida regrada, nunca consumi
drogas, não bebo bebida alcoólica, minha alimentação é equilibrada e sei que o
descanso faz parte do treinamento. Já cheguei a conclusão que o desgaste é inerente a vida , porque quem faz
ballet ou esporte , tem desgaste , quem não faz tem também ...então .... !!!!!
LB: Como anda sua agenda de
apresentações, onde nossos leitores podem estar indo assisti-la dançar nos
próximos meses?
CK:
Como mencionei acima, tenho me apresentado pouco, mas com a grande alegria de
ter retornado para o Corpo de Baile, voltado a dançar no palco do Theatro
Municipal, dancei na comemoração dos 30 anos do Festival de Joinville, fiz
algumas apresentações em festivais menores, mas de igual importância para mim e
mais para frente terei uma apresentação no Mato Grosso e outra na Bahia e com
grande expectativa para mais apresentações no Theatro Municipal do Rio de
Janeiro.
LB: Festival de Dança de
Joinville e Teatro Bolshoi, já é fato que todo ano podemos ter sua presença na
cidade da Dança. Conte como é essa parceria com o Festival e fale sobre o
festival 2012 e a apresentação do Ballet Raymonda ao lado da Cia do Ballet
Bolshoi.
CK:
Desde a primeira vez que me apresentei em Joinville em 1989, criei um vinculo
muito especial com este Festival dancei algumas vezes mais e outras vezes estive convidada como jurada e
a partir deste ano , numa missão de muita responsabilidade , fazer parte do
conselho artístico .
Já foram 15
apresentações, e esta com a Escola e Cia do Bolshoi, foi muito emblemática para
mim, pois tive o dileto prazer de ser convidada e pude sugerir que meu partner
fosse Denis Vieira, Solista do BTMRJ , porém formado pela escola do Bolshoi no Brasil
, quando Pavel Kazarian e o Ely Dinis poderiam ter optado por um casal do
Theatro Bolshoi da Rússia , que com certeza aceitariam com muito bom grado vir
dançar aqui.
LB: Interprete de grandes
repertórios eruditos, como define e dança contemporânea? De que forma ela afeta
os ballets de repertório visto que a montagem para o mesmo tem custo altíssimo
de figurinos, cenários, grande elenco?
CK: A
dança contemporânea ocupa o seu espaço, tem a sua peculiaridade, onde a
exigência física não é um fator preponderante, já o ballet contemporâneo pede
que seus interpretes tenham intimidade com a plástica e destrezas do ballet
clássico, ainda sem que o palco tenha que ser parte de uma historia. Agora o
ballet clássico de repertorio, este sim exige total integração entre coreógrafos,
ensaiadores, pianistas acompanhantes, artistas que elaboram os cenários, os que
criam figurinos, técnicos de palco, com o elenco de bailarinos, que tem que ser
um corpo de baile habituado a trabalhar junto por muitos anos, Solistas que
devem ter total interação com os personagens que interpretarão, e os Primeiros
Bailarinos que devem levar ao público a excelência da arte da dança que é
narrar uma historia através de sua alta compreensão artística sem dizer uma
única palavra, tudo através da musica que deve ser apresentada por uma
orquestra especialista nos grandes mestres, tendo a frente um Maestro com
extrema sensibilidade. Por isso acho que cada qual ocupa seu lugar, um sem
competir com o outro, ou deveria ser assim ... Porque deveria ser o objetivo
principal, se ter mais companhias empregando bailarinos e assim oferecer ao
público essa diversidade que é a dança, porque na Europa, Estados Unidos e Ásia,
os custos também são altos para ballets de grandes produções, mas nestes
lugares a dança é encarada como indústria do entretenimento e tem que dar lucro!!
LB: Qual a importância da
formação em Dança
Clássica para a dança Contemporâneo, visto que alguns ainda
julguem que não é necessário fazer ballet pra se dançar contemporâneo.
CK: Tudo
vai depender da proposta coreográfica, mas é impossível para alguém que nuca
tenha feito aulas de ballet , e muitas aulas de ballet mesmo, dançar qualquer
coreografia de ballet contemporâneo em sapatilhas de pontas ou não. Pois um
piloto não vai voar um Boeing se ele não
tiver conhecimento dos instrumentos de vôo.
LB: O que falta para o TMRJ
seguir exemplos como a Ópera de Paris com grandes espetáculos e ricas
produções. O TMRJ é único no Brasil com Orquestra, coro e técnica e raramente conseguimos
assistir grandes produções. Governo? Incentivo? Administração?
CK:
Falta de fato só seguir os exemplos que ai estão e que pode ser exatamente o
Teatro que você citou e usar a formula
que lá se usa e que da certo, porque a beleza da CASA já temos , inclusive o
Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inspirado no teatro francês . Mas tem que ser seguido a risca, kkkkkk
!!!!
LB: Quais suas metas pra 2013,
muitos trabalhos para o ano que se aproxima?
CK:
Espero que sim !!
LB: Em outra conversa
perguntei-lhe uma vez se você tinha interesse em ter uma escola, uma Cia. E você
me respondeu: Não, quero morrer como interprete de Teatro que eu amo tanto,
dando o meu melhor.
Hoje em dia a resposta seria a
mesma ou jovens bailarinos podem ter chance de sonhar em um dia dançar em uma Cia dirigida por
Cecilia Kerche?
CK:
Gente eu disse isso mesmo ??? aiaiaia !!!
minha intenção é continuar no meio da dança sim , gosto muito de ensaiar
passar minha energia , incentivar aos bailarinos a conseguir encontrar o seu
melhor, quem sabe ....
LB: Para nos despedimos uma
mensagem especial aos nossos leitores, bailarinos, fãs e amantes da dança.
CK: Escolhe um trabalho de que gostes, e
não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.
Confúcio
Querida, que Deus te ilumine. È
sempre mt bom falar com você, gostaria que todos pudessem ver que por trás de
todo esse brilho existe uma pessoa doce e gentil e sempre pronta pra nos
receber. Meu carinho e admiração.
c/ amor Luiza Bandeira
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