domingo, 5 de setembro de 2010

Luiza Bandeira entrevista, Marcelo Misailidis 1º bailarino TMRJ


Um dos principais nomes do balé brasileiro o 1º bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Marcelo Misailidis está aqui hoje em uma entrevista exclusiva contando um pouco dessa bela carreira de sucesso.
     



LB: Marcelo você sempre sonhou em ser bailarino, ou foi uma coisa que aconteceu devido às influências do dia a dia?

  

MM: Não nunca sonhei ser bailarino, num determinado momento da minha vida o ballet me encantou por diversos motivos... minha primeira namorada fazia ballet e quando ia buscá-la aquele universo me envolvia, estar com ela a musica o movimento o romantismo...acabei apaixonado por a esse mundo.

Eu já apreciava muito musica clássica, arte de modo geral, praticava esportes e ao mesmo tempo queria fazer algo que fosse original e decidido espontaneamente por mim... foi assim que tomei coragem e iniciei o Ballet.






LB: Começou a estudar ballet no Uruguai ou aqui no Brasil? Qual a 1ª escola que estudou e quem foram seus professores? Que idade tinha nessa

época?

  

MM: Cheguei ao Brasil com 6 anos de idade, e comecei ballet quase aos 17 no interior de São Paulo numa cidade chamada Americana. A minha primeira professora achou que eu não teria futuro e após um mês me disse pra desistir. Fui então para Campinas estudar no Ballet Lina Penteado, por onde estudei 8 meses, la conheci um bailarino fantástico chamado Othon da Rocha, ele foi o primeiro a acreditar em mim e perceber que poderia crescer muito profissionalmente se viesse para o Rio de Janeiro. Naquele final de ano de 1985, desiludido com o fim de meu namoro decidi aceitar o convite dele para fazer um curso de ferias com Aldo Lotufo aqui no Rio. Este curso, naquele período mudou a minha vida. 








LB: Qual foi seu 1º solo e o que sentiu ao ser escolhido, qual foi a sensação de estar sozinho no palco pela 1ª vez?



  

MM: Engraçado, mas eu não tenho isso claro como uma lembrança relevante porque a ascensão para os meninos era muito mais rápido do que para as meninas que tem muita concorrência, a carência de bailarinos permitia que você obtivesse inúmeras oportunidades, a questão talvez seja oportunidade de se apresentar em um espetáculo de qualidade. Lembro que me marcou muito a primeira vez que interpretei Albrecht, direção da Eliana Caminada e Erik Valdo, depois 

o mesmo personagem no TM.







LB: Como ingressou no TMRJ e como chegou a 1ª bailarino?

  

MM: Recebi um convite em 1991 de Dalal Achcar que dirigia o Theatro Municipal, naquela ocasião retornava da abertura do Festival de Joinville daquele mesmo ano, no qual participei de três noites de abertura dançando uma noite com cada bailarina Ana Botafogo, Cecília Kerche e Nora Esteves. Pelo fato de ter me apresentado com êxito junto às três primeiras bailarinas, isto me credenciou tecnicamente apto a assumir o convite, que na ocasião despertou certa ciumeira e ate mesmo ira por parte de alguns bailarinos da casa que não queriam aceitar a minha contratação diretamente a primeiro bailarino.

  




LB: Percurso de bailarino para 1º bailarino, o que foi mais difícil, teve que abrir mão de muitas coisas, quais foram os maiores sacrifícios para ocupar tal posição?

  

MM: Acho que tive sorte e fui muito bem preparado na ABRJ (Associação de Bale do Rio de Janeiro) dirigida por Dalal Achcar que tinha na equipe o professor Jorge Siqueira e o metre Desmond Doyle. A primeira grande estrela que trabalhei foi a Nora Esteves ainda na ABRJ, portanto, não tenho do que reclamar... no entanto como mencionei na resposta anterior a chegada ao TM não foi nada tranqüila, alias nunca foi...






LB: Quem foram os professores e coreógrafos que mais contribuíram para sua carreira?

  

MM: Foram muitos, a formação de um bailarino profissional se faz na tradição e na convivência com grandes artistas, com quais se aprende muito com cada um deles, que acrescenta com sua visão artística e experiência de sua trajetória. Entre eles Aldo Lotufo, Eugenia Feodorova, Tatiana Leskova, Jorge Siqueira, Desmond Doyle, Erik Valdo, Rosália Verlangieri, entre outros, que muitas vezes trabalhei pouco tempo, mais contribuíram muito em diálogos e observações a respeito da dança ...

  





LB: Entre suas companheiras de palco Ana Botafogo é a mais presente, sempre é possível achar matérias que falem de balés realizados por vocês.

   Além da Ana existe alguma outra bailarina que você queira falar, que tenha sido importante para sua carreira e que tenha dividido o palco com você?

  

MM: Claro que a Ana foi a bailarina com quem mais convivi, mas seria injusto com as demais bailarinas não reconhecer a importância e a contribuição imensurável delas na minha formação, porque um espetáculo deve sempre ser apresentado pelos casais protagonistas com a maior intensidade possível, viver plenamente o momento da cena nas quais diversas vezes acontecem situações únicas que transformam a cena daquele momento, gerando uma maior doação dos interpretes e uma riqueza teatral maior ao espetáculo. Dividir a cena é fundamental para que nós mesmos possamos ser mais convincentes frente ao público, e mais felizes como profissionais e com certeza fui muito feliz com todas as minhas partners, seria mais fácil citar o contrario, com quem não me identifiquei, mas por uma questão de cavalheirismo e ética prefiro não citar ou comentar... obviamente reconheço que dancei proporcionalmente mais vezes com a Ana Botafogo do que com outras partners, em personagens de bales maravilhosos dentro e fora do TM o que pessoalmente muito me orgulha e realiza.

Mas, no entanto devo agradecer e citar alguns nomes em homenagem a cada uma delas com quem tanto vivi e aprendi.

Áurea Hamerlli, Beatriz Almeida, Betina Dalcanale, Cecília Kerche, Claudia Motta, Eliana Caminada, Fernanda, Laura Prochet, Márcia Jaqueline, Nora Esteves, Norma Pina, Roberta Fernandez, Roberta Marques, Silvina Perillo, Suzana Trindade entre outras caso tenha faltado aqui nesta breve lista.  A todas, o meu profundo agradecimento.

  






LB:Quanto ao preconceito o que é pior para um bailarino e qual foi o pior situação que você lidou por causa de pessoas preconceituosas?

  

MM: Não tenho nenhuma situação de preconceito que tenha presenciado que mereça algum destaque, acho que isto deve ter sempre sido algo velado, fruto de inveja por parte de pessoas que não tiveram coragem de se pronunciar ou mesmo pessoalmente dificuldades, de decidir por si mesmos suas escolhas e viver verdadeiramente o que se gosta.

  







LB: É fato que você fundou uma escola de danças em Juiz de Fora que carrega o seu nome. Porque Juiz de fora e qual a proposta oferecida pela, ela é pública, particular, oferece bolsas, procura novos talentos... Enfim o que acontece por lá?

  

MM: Sim, já tenho uma Escola de Dança em Juiz de Fora a mais de 13 anos em parceria com a minha mulher Danielle Marie.

A proposta é buscar oferecer um ensino de melhor qualidade, a todo aquele que tenha interesse de aprender ballet clássico de modo mais comprometido com uma formação séria, sem focar aspectos meramente comercias. A escola é particular, mas oferece bolsa a crianças talentosas, e tem um grande comprometimento com a responsabilidade de como trabalhar e cuidar do corpo do bailarino e da educação do aluno como um todo.

  










LB: O TMRJ e a sua vida, qual a importância desse lugar, e o que te deixa triste no TRMJ?



MM: Para qualquer bailarino clássico no Brasil, dançar no TM ainda é o objetivo profissional mais importante, comigo não foi diferente.

Grande parte da minha vida profissional se deu ali, grande parte da minha vida pessoal também teve sua interface no TM, portanto isto o torna uma referencia muito forte em minha vida.

O problema é talvez exatamente este, que o TM não pode ser visto ou compreendido como algo ao qual possamos estreitar tanto assim estes laços, porque cada um deve ter sua vida pessoal totalmente desvinculada do TM, limitar-se a ele unicamente de modo profissional, e reservar os demais vínculos emocionais independentes ao Teatro, que não pode e não deve confundir sua finalidade.

Esta confusa relação feita entre pessoas e o TM, é que invariavelmente deixa as pessoas infelizes e amargas. Não conheço quem tenha passado por lá, e que não tenha saído sem alguma magoa ou ressentimento. Isto se dá muitas vezes, por não se compreender que aquele espaço é da sociedade como um todo, e trabalhar nele deve ser encarado como motivo de privilégio, gerando no coração do artista generosidade, alegria e respeito e não um estranho sentimento de possessividade, egoísmo e apatia a tudo aquilo que não represente conveniência pessoal.

O TM é um templo para sonhar, e o equivoco pode muitas vezes levar o mesmo a um pesadelo.

  







LB: Trabalhos mais importantes no Brasil e exterior?



MM: Acho que a maior parte do repertorio do TM, Giselle, Megera Domada, Onegin, Romeu e Julieta, Dom Quixote, etc.

Nijinsky, trabalho solo dirigido por Fabio de Melo.

Romeu e Julieta de Tchaikovsky na versão de Marila Gremo e depois numa versão que eu mesmo coreografei pra mim e Ana Botafogo.

Meus trabalhos como coreógrafo em Comissões de Frente no Carnaval.

  





LB: Repertórios preferidos?



MM: Se tivesse que escolher um seria Eugenie Onegin

  





LB: Bailarinos e bailarinas que te inspiram, do passado aos dias de hoje?

  

MM: V. Vassiliev, M. Baryshnikov, R. Nureyev, Maia Plissietskaya, etc., e principalmente os

brasileiros Aldo Lotufo e Bertha Rosanova ( isto sim e que me inspirou),

Othon da Rocha, Ana Botafogo, Beatriz Almeida, Cecília Kerche, Nora Esteves e demais lista acima.

  





LB: Melhores momentos de sua carreira?

  

MM: Quase todos, eu amei de verdade.


LB: O que você não faria de novo por causa do ballet?
  

MM: O que eu não faria, não diria assim porque seria demais, mas diminuiria algumas noitadas, afinal de contas sou um artista um tanto às avessas, gosto vez por outra de uma boemia refletir e planejar projetos, jogar conversa fora até mais tarde quando o assunto é bom.

  






LB: Atualmente qual sua posição no TMRJ, e como andam seus projetos para o futuro?

  

MM: Sou artista concursado, com quase 20 anos de serviços prestados, de bailarino a diretor artístico do BTM, atualmente estou à disposição da direção para atuar no staff artístico da casa.

  






LB: Um conselho de alguém tão importante como você é extramente valido para tantos jovens rapazes que sonham em se tornar bailarinos, mais infelizmente estão cercados de preconceitos e dificuldades.

  

MM: Acredite nos seus sonhos, a vida é uma oportunidade para se realizar os sonhos, e não para meramente desejá-los.

  

LB: Como de costume uma mensagem sua para nossos leitores.



MM: Foi um prazer dividir este momento com vocês e partilhar de opiniões e experiências a respeito da minha vida e do bale de modo geral. Um grande abraço a todos.



                                                                                       Com carinho sua fã Luiza Bandeira.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Eric Valdo, 81 Anos de dança e vida


 Eric Valdo , bailarino solista do Corpo de Baile, maître-de-ballet da companhia de 1970 e 1978 e de 1996 a 1998, na gestão de Jean-Yves Lormeau (étoille do Ballet da ópera de Paris, diretor do Corpo de Baile do Theatro Municipal entre 1996 e 1999), diretor do Balé Guairá em 1978 e 1979, diretor artístico da Cia de Dança Rio, entre outras .

   Dia 13 de julho aniversário desse  grande mestre da dança brasileira.

Querido Eric q essa luz que brilhou nos palcos durante tantos anos continue brilhando em nossas vidas para sempre. Uma estrela como vc nunca se apaga feliz 81 anos de mt talento .

 Fecidades, Luiza Bandeira e  mundo da dança.


Em breve uma super matéria com o Eric Valdo. bjus luiza

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Eliana Caminada


Entrevista com a Bailarina Eliana Caminada,Bailarina, coreógrafa e maîtresse-de-ballet, registrada pelo Ministério do Trabalho / http://www.elianacaminada.net

 

"Meu amor está alicerçado na convicção de que o ballet não é apenas uma arte universal e atemporal; ele é também uma técnica secular, que ainda não foi - e creio que nunca será - superada como instrumento para conferir ao corpo plasticidade, expressividade e autonomia.

A dança, pensada e aplicada como atividade subordinada a essa técnica baseada na razão e na imaginação criadora, é capaz de transformar a opção pelo palco numa realização corporal, espiritual e psicológica de prazer. Mais do que isso, o ballet, é uma dança profundamente reveladora do interior do artista, traiçoeira, até, quando nos julgamos senhores do que transmitimos. O ballet é a dança da honestidade, do longo e seguro caminho que envolve uma erudição quase purificatória.”

 

                                                                                                                                  Eliana Caminada

 

 

Entrevista:

 







 
 LB: Eliana com que idade sua história começou com o Ballet, e quando você percebeu que queria viver de dança, se tornar uma bailarina profissional?

EC: Comecei a estudar ballet – ballet mesmo, não baby-class ou pré-ballet – aos 5 anos de idade, com Sandra Dieken, até hoje uma espécie de mãe e professora. Atualmente, já não se indica o ensino da técnica de ballet clássico para crianças tão pequenas. 

Desde os 3 anos, quando assisti Coppélia, com o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo Tamara Capeller no papel principal, eu quis estudar ballet. Mais: eu quis ser bailarina clássica.

Foi um encantamento definitivo, nunca pensei em ser outra coisa. Parece lenda, mas é a mais antiga recordação que tenho da minha infância, o que vale dizer que não me lembro da vida sem ballet. Aquele tutu, a bailarina na ponta, a música, a orquestra, a história do ballet, o prédio magnífico do Theatro Municipal, o rito que precede o espetáculo, tudo isso exerceu sobre mim, para sempre, um fascínio indescritível.





LB: Houve alguma influência familiar para que você se tornasse bailarina ou foi simplesmente sonho de criança?  Família, apoio incondicional, ou sua trajetória com a dança foi solitária como a de muitos jovens bailarinos que vemos hoje? E o você tem a dizer para estes jovens.

EC:  Houve sim, muito estímulo de meus pais, de minha família toda, no sentido de me apoiar na decisão de ser bailarina. Tive uma criação, sob o ponto de vista cultural, muito rica. Teatro de prosa, concertos, óperas, ballets, meus pais viam tudo e me levavam junto com eles. Li desde que aprendi a ler e isso me valeu quase que como uma formação superior. Ainda leio compulsivamente sobre tudo. 

Minha trajetória jamais foi solitária. 






LB: Você se formou na Escola Estadual de Danças Maria Olenewa. Quantos anos levou para se formar e quais foram os melhores e piores momentos na escola de danças?

EC: Eu me formei na EEDMO em muito pouco tempo. Entrei para o 2º ano médio, tirei grau 10.0 no exame final e pulei para o 1º ano técnico. Quando estava nesse ano do curso técnico o Corpo de Baile abriu concurso. Eu ia fazer 16 anos, mas prestei o concurso e fui aprovada em 2º lugar. Fui, então, liberada da Escola para cursar apenas as matérias complementares. No ano seguinte, 2º técnico, era estágio no Corpo de Baile. Formei-me nesse mesmo ano, dançando a 1ª variação de Paquita de Petipa/Balanchine. No ano seguinte eu prestei novo concurso para o Theatro e, dessa vez, fui aprovada na primeira colocação e tornei-me efetivamente bailarina do Theatro Municipal. 




LB: Sabemos que você se formou em outras escolas, conte um pouco para nós de como foi esse período de formação e quais foram essas escolas. 

EC:Estudei particularmente com Dina Nova, Nina Verchinina e Tatiana Leskova, que foi minha professora para sempre. Quando me casei com Eric Valdo ele também orientou minha carreira e me ensinou muito do que sei e do que consegui fazer no mundo da dança. Mas costumo dizer que completei minha formação como bailarina do Theatro Municipal. Um teatro com o perfil do Municipal enriquece qualquer biografia, completa qualquer formação. Lá dentro você vai ouvir, dançar, cruzar, olhar, um mundo, o mundo da arte cênica. É muito mais do que dançar ballet.

 





LB: Mestres foram muitos e significativos, mas nessa longa carreira tem sempre alguém que nos deixa recordações e ensinamentos que levamos para o resto da vida. Quem foram eles?

 

EC: Sinto profunda gratidão e carinho por William Dollar, um grande mestre e grande coreógrafo, e por Jorge Garcia, o diretor que, de fato, gostou de mim como bailarina. Gostaria de citar, também, Consuelo Rios, minha primeira professora na Academia Tatiana Leskova, e Renée Wells, que me orientou no ano que passei na Escola de Danças. 

 



LB:
Parceiros de Palco é assim que encontramos em uma das belas páginas do seu site:

 

 "No camarim, as rosas vão murchando

E o contra-regra dá o último sinal.

As luzes da platéia vão se amortecendo

E a orquestra ataca o acorde inicial.

No camarim, nem sempre há euforia

Artista de mim mesma, não posso fracassar.

Releio os bilhetes que pregados no espelho

Me pedem que jamais eu deixe de 'dançar'..."

                                                                                                                            HERMÍNIO Belo de Carvalho

 

 






LB:Quem foram eles e o que significaram para sua vida e carreira?

 

EC: Ah, eu amei meus companheiros de palco. Ficava, sempre, sinceramente encantada de vê-los, aplaudi-los da coxia, torcer por eles, dividir com eles expectativas, sonhos, sucessos, eventuais fracassos. Muito marcaram minha vida. Poderia mencionar Fernando Bujones e Gregory Ismailov, com quem dancei Coppélia na íntegra, e Eric Wenes, com quem dancei Flower Festival in Genzano, mas certamente, muito mais importantes em minha vida foram: Aldo Lotufo, nossa maior referência da dança masculina no Brasil, com que tive a honra de dançar no encerramento de sua carreira; Othon da Rocha Neto, um ser querido, grande intérprete, uma vocação para a dança; Fernando Mendes, um talento excepcional; Jair Moraes, querido primeiro-bailarino, mais que isso, sinônimo do Balé Guairá; Marcelo Misailidis, um sopro de juventude e talento nos últimos anos de minha carreira;Antonio Bento, meu maior e mais querido amigo, entre outros.  

 





LB: Ballets de repertório, muita gente não sabe o que é e não entende quando falamos deles. Conte sobre os ballets que dançou, os mais importantes, e como também é professora de história da dança explique para nossos leitores o que seria um ballet de repertório.

 

EC: Dancei muita coisa bela, mas guardo especial carinho por Coppélia, Les Sylphides e Giselle. A par desses clássicos de repertório, considero-me premiada por ter podido interpretar Romeu e Julieta de Maryla Gremo, uma grande e desconhecida coreógrafa do Theatro Municipal. Também não poderia deixar de mencionar as obras de Dollar, Magnificat de Oscar Araiz, os ballets que Eric criou para mim e clássicos como o pas hungrois de Raymonda. Pode-se considerar como ballet de repertório àquelas obras que adquiriram a condição de patrimônios da humanidade. Para isso, costuma-se considerar há quanto tempo a obra é encenada e por que companhias e bailarinos foi dançada. Um ballet criado há mais de 5 décadas, dançado no mundo inteiro, por grandes companhias profissionais e grandes bailarinos é, por certo, um ballet do repertório universal. Existem obras que só são encenadas em determinado país, são repertório local, não adquiriram caráter de universalidade. 




LB: Theatro Municipal RJ, uma grande história de amor entre você e esse lugar. O que o Theatro Municipal representou e representa na sua vida como bailarina?

 

EC: Não saberia separar minha vida totalmente do Theatro, até porque me casei com bailarino da casa, fiquei noiva na porta dos fundos do Theatro, ali realizei alguns de meus sonhos, recebi minhas primeiras flores e críticas como bailarina profissional, aprendi a maior parte do que hoje se constitui a minha bagagem artística. 

 





LB: Companheiros na vida e dança. Fale um pouco desses tantos amigos que contribuíram para sua vida na dança se tornasse mais feliz.

 

EC: Não dá, são muitos. Especialmente, e tenho medo de estar esquecendo amigos queridos, Karin Scholleterbeck, Norma Pinna, João Wlamir, Cesar Lima, Vera Aragão... E mais Aldo Lotufo, Cristina Martinelli, Regina Ferraz, Ana Botafogo, Nora Esteves, Chico e Melissa Timbó, Laura Prochet, Carlos Cabral, Lydia Costallet, ah, são tantos. Toda a turma do Teatro Municipal de Niterói, a turma que se formou na UniverCidade, composta de bailarinos dos teatros municipal do Rio e de Niterói, do Balé Guaíra, do Centro de Dança Rio, do Festival de Joinville.  Sem falar nos que já não estão entre nós. Nossa, ocuparia seu blog inteiro. 

 





LB: Eliana por Eliana, quem realmente é essa mulher bailarina maravilhosa que tantos já ouviram falar?

 

EC: Sou uma mulher que viveu intensamente, que não abriu mão de nada. Que se casou com um homem maravilhoso, meu companheiro há 43 anos, com quem tenho um filho, Roberto, que nos dará, agora, dois netinhos. Uma mulher que jamais colocou em dúvida sua escolha profissional, que mais do que talento ou atributos físicos tinha e tem vocação para a dança. Uma mulher que teve em seus pais e em sua família seu grande ponto de equilíbrio. 

Mas, sobretudo, uma mulher casada com a dança. Foi através do ballet que me fiz adulta, esposa, mãe, profissional, professora, cidadã.

 

 

 






LB: Para aqueles que estão começando, em sua opinião que caminho seguir para se tornar um bailarino (a) e o que não deve se fazer numa carreira como essa?

 

EC: Aos que estão começando eu diria que precisam perceber se realmente são vocacionados. Decidido isto, coloquem-se à disposição da dança, com humildade. Não tentem se impor à dança, mas que permitam que a dança aponte o  deseja de cada um de vocês. Que tentem entender se o seu lugar para melhor amar a dança é estar dentro ou fora dela, no palco ou na platéia. E que estudem, estudem, estudem. Leiam, leiam, leiam. Bailarinos têm fama de bonitos e nada pensantes. Precisamos mudar essa idéia, porque vivemos num mundo dominado pelo discurso acadêmico. E que estudem a história de sua profissão, que não se permitam não saber, não conhecer os grandes fatos da história, os grandes nomes, as grandes obras. Que saibam como chegamos até aqui.


O que não se deve fazer? Encarar a dança como uma ginástica, uma mera superação de marcas atléticas. Ballet é arte, é sensibilidade, é poesia, não é pernas na cabeça, quantidade de giros, virtuosismo gratuito, fogos de artifício. Olhem para Cecília Kerche. Ali estão os atributos físicos à serviço da qualidade da arte de dançar. 

 





LB: Eliana homenageia....

EC: Os bailarinos brasileiros. 








LB: Uma mensagem especial aos amantes da dança no mundo.

 EC: O ballet é uma arte viva da criação, talvez a maior criação do homem. O ballet não morrerá jamais e, se existir paraíso, haverá ballet nele. 

                                                                                                                             Eliana Caminada

                                                                                                                              c/ amor Luiza Bandeira

domingo, 20 de junho de 2010

A dança de Nina Verchinina

 Nina Verchinina 



Trecho extraído da dissertação de mestrado “Nina Verchinina e a danca moderna brasileira”, defendida pela pesquisadora Beatriz Cerbino. - PUC SP.

Reconhecida como uma das principais figuras no desenvolvimento da dança moderna no Brasil,Nina Verchinina (1910-1995) foi uma referência para bailarinos e criadores nas décadas de 1960 e 1970. As propostas que apresentou para a construção de um corpo - formas, seqüências e possibilidades de deslocamento no espaço - marcaram fortemente a dança aqui produzida.

A singularidade de sua trajetória, desde sua infância nas plantações de chá da China, passando pela adolescência e vida adulta em países da Europa, das Américas e da Oceania, até sua chegada à cidade do Rio de Janeiro, em 1954, assim como as diferentes fases que aqui viveu e vivenciou, são reconhecíveis na técnica de dança que desenvolveu. O corpo por ela construído abriga informações advindas dos múltiplos ambientes que proporcionaram a diversidade de instruções a que teve acesso.
A partir de um corpo com formação eminentemente clássica - Verchinina estudou balé com Olga Preobrajenska (1871-1962) e Bronislava Nijinska (1891-1972) -, criou e instaurou novos códigos corporais, elaborando e refinando seu próprio vocabulário ao longo de décadas de experimentação e pesquisa. A técnica da dança moderna que elaborou atendeu suas necessidades de bailarina e criadora que não encontrava nas técnicas existentes da época formulações que se adequassem aos movimentos e formas que buscava imprimir no espaço.
Apesar de sua formação clássica e de usar elementos do balé em suas aulas, como as posições básicas dos pés os grands battements, os ronds-de-jambes e até mesmo os pas de bourrés, Verchinina tinha clareza da necessidade de um outro tipo de corpo para um outro entendimento do movimento, para que as pessoas pudessem dançar o que ela elaborava coreograficamente. Assim, desenvolveu sua técnica, elaborando e organizando suas pesquisas em busca de uma formulação que permitisse entender o corpo não decomposto em partes, como ela identificava o corpo construído pelo balé, mas apresentando-se como um todo capaz de se mover em bloco pelo espaço. Ou seja, o corpo não entraria e se deslocaria no espaço de maneira sucessiva, com uma parte após a outra em movimentos quebrados, mas sim simultaneamente, criando momentos de total conjunção entre cabeça, tronco e membros.
Assim, a partir de uma formação em dança essencialmente clássica, Verchinina alcançou um outro patamar em sua trajetória: além da mestra que ensinava, como aquelas com quem estudou, tornou-se também uma mestra que inventou, elaborando um corpo para dançar com características e formas independentes daquelas apresentadas pelo balé.
Nina Verchinina foi capaz, antes de tudo, de imprimir em suas coreografias e nos corpos de seus bailarinos uma assinatura; criando, dessa maneira, uma fonte de permanência para seu pensamento, para suas idéias acerca de sua dança. Idéias que ganham concretude em movimentos e gestos, criando e reinventando paisagens que se materializam no tempo, no espaço e no corpo.


“A dança de hoje tem que refletir aquilo que se vive, que acontece no mundo e por
dentro de cada ser” (PORTINARI, 1972).
Frase retirada do texto “POR UMA GENEALOGIA MODERNO-EXPRESSIONISTA
DA DANÇA DE NINA VERCHININA” de Claudia Petrina.

Ritmos de aula

Sugestões para ritmos de aula.

Iniciantes ou Intermediárias:


Barra

Pliés- valsa e adágio

Battements tendu- 2/4 ou polca

Battements jeté- 2/4

Rond de jambe à terre- valsa lenta

Retirés- marcha

Adagio- adagio ou valsa

Grand battements- marcha

Centro


Port de bras- adagio simples

Battement tendus- 2/4 ou 4/4

Pas de Bourré ( exercicios similares)- mazurka ou polka 2/4

Saltos Pequenos- allegros 2/4 ou 6/8

Grandes saltos- valsa

Diagonais

Deboulés, Piqués e outros- galope

pontas- 6/8


Avançadas

Barra


Pliés- valsas lentas

Battement tendu (lento)- valsa lenta

Battement tendu (mais rápido)- 4/4

Battement jeté- 2/4 normal

Battement jeté em 1ª - 6/8

Fondus- valsa lenta ou tango

Rond de jambe à terre- valsa lenta

Frappés- 2/4 ou mazurka ou estudos

Rond jambe en l'air - valsa rápida

Adagio- adagio

Petits battements- 2/4

Grands battements- marcha ou valsa rápida

Pied la barre- valsa lenta ou adagio

Centro

Port de bras- adagio-  6/8 ,  2/4,  4/4 , 3/4

Battements tendus- 2/4 ou valsa mais rápida

Pirouettes- valsa

Pequenos saltos- 6/8 - polka - 2/4 - alegro

Grandes saltos- valsas brilhantes




Sapateado



O sapateado


Sem registros históricos que possam precisar datas e locais, sabe-se muito pouco a respeito das origens do sapateado: algumas das suas primeiras manifestações datam de meados do século V. Posteriormente, desenvolveu-se a partir do período da primeira Revolução Industrial. Os operários costumavam usar tamancos (clogs) para isolar a humidade que subia do solo e, nos períodos livres, reuniam-se nas ruas para exibir sua arte: quem fizesse o maior e mais variado número de sons com os pés, de forma mais original, seria o vencedor. Por volta de 1800 sapatos foram adaptados especialmente para esta dança. O calçado era mais flexíveis, feito de couro, e moedas eram fixadas à sola, para que o som fosse mais limpo. Mais tarde, finas placas de metal (taps) passaram a ser fixadas no lugar das moedas, o que aumentou ainda mais a qualidade do som. 

Nos Estados Unidos desenvolveu-se o chamado sapateado americano, introduzido no país por volta da primeira metade do século 19, na fusão que uniu ritmos e danças dos escravos, que já possuiam um estilo de dança próprio baseado nos sons corporais, com os estilos de sapateado praticados pelos imigrantes irlandeses e colonizadores ingleses.

A forma irlandesa do sapateado - também chamada de Irish Tap Dance - concentra-se nos pés, o tronco permanece rígido; já os americanos realizam sua Tap Dance esbanjando ritmos sincopados e movimentos com o corpo todo, abrindo a dança para o estilo próprio de cada executor. O sapateado americano acresecentou à forma irlandesa da dança toda a riqueza musical e de movimentos dos ritmos dançados pelos africanos e com isso criou uma modalidade de dança ímpar e que se espalharia, posteriormente, por todo o território dos EUA e, durante o século XX, diversos outros países.

A partir da década de 30 o sapateado ganhou força e popularidade com os grandes musicais, que contavam com a participação de nomes como Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, Vera-Ellen e Eleanor Powell. Depois de um período de declínio do final da década de 50 ao inicio dos anos 70, nomes como Gregory Hines e, em especial, Brenda Bufalino (diretora da American Tap Dance Foundation) revitalizaram o sapateado americano, impulsionando toda uma nova geração, de onde surgiram nomes como o do grande astro Savion Glover, recentemente coreógrafo dos pinguins do filme Happy Feet.

Profissionais de sapateado americano realizam periodicamente workshops e shows internacionais, levando a arte do sapateado para diversos países: além da Irlanda e Estados Unidos, países como França, Austrália, Alemanha, Espanha, Israel e Brasil possuem grupos, coreógrafos e estúdios de sapateado de expressão. O Brasil, em particular, recebe anualmente diversos profissionais americanos como forma de intercâmbio entre os grandes mestres da tap dance e os diversos núcleos de sapateado existentes por todo o território nacional.

 Um pouco da história:

Quando o primeiro navio negreiro aportou nos Estados Unidos trouxe em seus porões não só o homem-escravo mas toda a herança da Àfrica, seus rituais, suas danças religiosas e sobretudo os inatos ritmus de raça. A lei de 1740, que proibiu o bater de tambores, o soar de cornetas e semelhantes, acelerou o processo de adaptação do negro à sociedade americana. Suas danças continuaram. Além do spirituaks, eles dançavam ao som do banjo, de palmas e de seus próprios passos, que proporciavam um acompanhamento natural ao se arrastarem no chão e ao baterem as pontas e os calacnhares.

O sapateado surgiu assim ao arrastar e bater dos pés .

Grandes Coreógrafos da Dança no mundo!



Lista de coreógrafos famosos:

(foto- Marius petipa)

Albertina Rasch – Áustria / Estados Unidos

Bob Fosse – Estados Unidos


Bronislava Nijinska – Rússia


Busby Berkeley – Estados Unidos


Carlinhos de Jesus – Brasil

Deborah Colker – Brasil


Friedrich Albert Zorn – Alemanha


Felipe Mendes – Brasil

George Balanchine – Rússia / Estados Unidos


Herbert Ross – Estados Unidos


Jaime Arôxa – Brasil


João Hydalgo – Portugal


Klauss Vianna – Brasil


Karla Costa – Brasil


Lennie Dale – Estados Unidos / Brasil


Lourdes Bastos – Brasil




Madalena Victorino – Portugal


Márcia Haydée – Brasil


Maria Duschenes – Hungria / Brasil


Marilena Ansaldi – Brasil


Marius Petipa – França / Rússia


Martha Graham – Estados Unidos


Maurice Béjart – França


Merce Cunningham – Estados Unidos


Michel Fokine – Rússia


Olga Roriz – Portugal


Pina Bauch – Alemanha


Renée Gumiel – França / Brasil


Rodrigo Pederneiras – Brasil


Roland Petit – França


Rudolf Laban – Hungria



Tatiana Leskova – Rússia / Brasil


Teresa Ranieri – Itália


Vaslav Nijinsky – Rússia


Victor Navarro Capell – Espanha


William Forsythe – Estados Unidos