terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Dicionário básico de Ballet


A


AIR, EN L’– No ar , todos os movimentos en l’air são executados no ar.


ADÁGIO - Derivado do italiano – lentamente.

a) qualquer dança ou combinação de passos feitos para a música lenta;
b) série de exercícios efetuados durante a aula com o fito de desenvolver a graça, o equilíbrio e o senso de harmonia e beleza das linhas;
c) parte dos pas de deux clássicos dançados pela bailarina e seu partner. Chamado pelos franceses de Adage.


ALLEGRO – alegre, vivo, movimentos executados animadamente. Com vivacidade e alegria. Todos os passos de elevação pertencem a essa categoria:


APLOMB - Aprumo. Dá-se o nome de Aplomb à elegância e ao controle perfeito do corpo e dos pés, conseguido pelo bailarino ao executar o movimento.


ALLONGÉ – Alongado, estendido, esticado


AVANT, EN – Para frente


ARRIÈRE, EN – Para trás


B


BARRA- A barra horizontal de madeira ou ferro, às vezes fixada à parede da classe de balé ou em modelos móveis, onde os (as) bailarinos (as) seguram para obter apoio. Todas as aulas de balé começam com exercícios na barra.


BRAS – Braço


BRAS BAS – Braços em baixo


BALANCÉ- - Balanceado. Passo balançado, exucução de um passo em que o peso do corpo passa de uma pé para o outro, balançado, como no passo de valsa.


BALLET - Balé. Derivado do italiano ballare (bailar). É um conjunto de passos de dança executados em solo ou em grupo. Balé reúne, na sua maioria, várias artes, tais como música, pintura (cenários e figurinos), arte dramática (mímica e interpretação), com a dança na sua forma clássìca ou moderna.


BATTEMENT – Batida. Termo genérico designando certos exercícios e movimentos da perna e do pé, executados sob a forma de batidas. Basicamente, em balé, o termo battement significa a extensão total ou parcial da perna e do pé e seu retorno à posição inicial.


BATTU – Batido, golpeado. Este termo, ainda que relacionado a qualquer passo, mantém-se inalterado, significando apenas que o bailarino bate as pernas durante a sua execução. Por exemplo, um assemblé battu é um assemblé comum, porém com uma batida das pernas no ar.


BATTERIE - Bateria, designação da escola francesa para passos batidos em série, batterie é o coletivo para batimentos sucessivos e de qualquer espécie. As pernas batem uma na outra, as duas juntas e ativas. Não é batida quando uma das pernas está passiva. Segundo a elevação a bateria classifica-se em grande e pequena.


C


CAMBRÉ – arqueado, arquear ou inclinar o corpo a partir da cintura para frente, para trás ou para os lados, a cabeça acompanhado o movimento corporal.


CHANÉS – Cadeias, elos. Neste movimento a bailarina executa uma série de giros rápidos, encadeados, nas pontas ou meias pontas, com transferência de peso de um pé para o outro, meia volta em cada pé, Os joelhos são mantidos rígidos.


CHANGEMENT- trocando , troca de pés


CHASSÉ- Caçado, perseguido


CLOCHE- Como um pêndulo, está designação se refere aos grandes batimentos executados continuamente à frente e atrás na 1ª posição.


CODA - A última e rápida seção do pas de deux, onde os dançarinos devem ter pequenas passagens de solos assim como dançarem juntos numa brilhante conclusão, como o pas de deux de "Pássaro Azul", em "A Bela Adormecida".


CORPO DE BAILE - Grupo de dançarinos de uma companhia de balé, que aparece entre as danças dos solistas.


CONTRETEMPS - Contratempo. Passo composto: coupé dessous, chassé ouvert en avant


COTÉ, DE - Ao lado. Não é um passo; este termo, quando adicionado a qualquer passo ou exercício, significa que este deve ser dado ao lado.


CROISÉ - Cruzado. Designação para uma das direções do ombro. O corpo do bailarino fica colocado em ângulo obliquo em relação à frente do palco ou sala, com o cruzamento das pernas. A perna livre pode ficar cruzada na frente ou atrás.


CROIX, EN - Em cruz. Fazer qualquer exercício en croix significa executá-lo em frente, ao lado, atrás e de novo ao lado.


D


DANSEUR NOBLE - Bailarino nobre. Nome em geral usado para designar a primeira figura masculina de um balé, o herói romântico, como o tenor numa ópera.


DANSEUR, DANSEUSE - Bailarino, bailarina.


DANSE DE CARACTERE - Dança folclórica ou a caráter.


DEBOULÉS - Rolar. Pequenos tours, em geral feitos em séries, em que o bailarino executa pequenas voltas, transferindo o peso do corpo de uma perna para outra. O mesmo que CHAINÉS.


DEDANS, EN - Para dentro. Indica que: (a) o movimento da perna é feito numa direção circular de trás para frente; (b) uma pirueta é executada girando para o lado da perna de sustentação.


DEGAGÈ- Afastado. Posição em que o bailarino se encontra sobre uma perna, com a outra afastada, ponta esticada, em frente, ao lado ou atrás. 0 degagé pode ser à terre, com a ponta tocando o chão, ou en I'air, com a perna levantada a meia ou grande altura.


DEHORS, EN - Para fora. Indica que: (a) o movimento da perna é feito em direção circular da frente para trás; (b) uma pirueta é executada girando-se para o lado da perna que levanta do chão.


DEMI - Meio, metade. Qualquer posição ou passo efetuado de maneira pequena ou pela metade.


DEMI POINTE - Meia ponta, ou seja, sobre a sola dos dedos dos pés.


DERRIÈRE - Atrás. Qualquer passo, exercício ou posição executados atrás, isto é, com a perna fazendo o movimento atrás da outra ou então fechando atrás.


DESSOUS – Por baixo. Qualquer passo executado com a perna de ação passando atrás da perna de apoio.


DESSUS - Por cima. Qualquer passo que quando executado, a perna que comanda a ação passa na frente da perna de apoio


DEUX, PAS DE - Passo de dois (ou passo a dois). Uma dança para duas pessoas. Grand pas de deux, nome dado nos balés clássicos para os pas de deux feitos pela primeira bailarina e pelo primeiro bailarino, destinado a mostrar sua virtuosidade, e em geral consistindo de entrada, adágio, variação para a bailarina, variação para o bailarino, concluindo com uma Coda.


DEVANT - Na frente. Termo relacionado a qualquer passo ou exercício que é executado na frente, isto é, com a perna fazendo o movimento em frente da outra, ou então fechando na frente.



E


ÉPAULEMENT- Ombreamento. Designação para o movimento do dorso da cintura para cima, levando um ombro para a frente e o outro para trás, a cabeça olhando por cima do ombro da frente.


ELEVÉ - Elevação. Elevar subir na meia ponta ou ponta


ENCHAINEMENT - Encadeamento. Qualquer combinação de vários passos numa frase musical


ENTRÉE – Entrada, execução de um número especial com que a bailarina(o) ou grupo de bailarinos dão inicio ao espetáculo, também conhecido por divertissement.



F


FACE, DE – De frente. Uma posição ou passo executado totalmente de frente para o público.


FERMÈE- Fechado indica que os pés devem permanecer em uma posição fechada.


FONDU – Fundido, de fusão. Segundo o mestre St. Leon o fondu é em uma perna o que o plié é para duas. (flexão de uma perna só)


FRAPPÉ -Batido


G


GRAND - Grande, largo. Como, por exemplo, em grand battement.


GENOU- Joelhos


GLISSÉ- Escorregado, deslizado


J


JAMBE – Perna


JETÉ – Jogado, ejetar, lançar



M


MÁITRE-DE-BALLET, MAITRESSE-DU-BALLET - É o responsável, junto ao coreógrafo, por manter e remontar, quando necessário, a obra, respeitando sua autenticidade, qualidade técnica e artística. O maitre-de-ballet também dá aulas à companhia cuidando da unidade de trabalho e estilo que estão sob a sua responsabilidade.


MANÉGE – ao redor , a forma em que o bailarino executa os tours, quando estes são feitos ao redor do palco, como se circundasse um picadeiro imaginário.


MARCHÉ, PAS - Passo marchado ou andado. Um passo comum, feito com o pé esticado, colocando-se primeiro no chão a meia ponta e em seguida o calcanhar.


MILLIEU, AU – No centro


MONTER- Subir, elevar-se nas pontas ou meias pontas


O


OUVERT Aberto, ou ouverte, aberta, posição dos membros: braços, pés, pernas. E Também: direções, exercícios, passos. Segundo a escola francesa o mesmo que effacé.


OPPOSITION, EN - Em oposição. Termo que indica uma posição em que ex: os braços ficam em oposição a perna.


P


PAS – Passo. Designação para uma transferência de peso do corpo de uma perna para outra.


PASSÉ- passado, movimento auxiliar em que o pé da perna em deslocação passa pelo joelho da perna de apoio. É o ato de passar.


PAS DE VALSE- Passo de valsa, pode ser executado de frente ou girando. Os movimentos são feitos com um pronunciado balanço do corpo e dos braços.


PAS DE CHEVAL- Passo de cavalo, assim chamado por que tem semelhança com a marcha das pastas de um cavalo.


PAS DE DEUX- Passo de dois, movimentação coreográfica executado geralmente pela 1ª e 1º bailarino, em conjunto.


PETIT- Pequeno


POINTÉ- Ponta do pé


PLIÉ- Dobrado


PORT DE BRAS- Movimento dos Braços


PORTÉE – Conduzida, passo em que a bailarina é conduzida no ar de um ponto ao outro.


POSE- Postura


POSÉ- Posado, situação em que a bailarina(o) assume uma posição de equilíbrio na ponta ou meia ponta, com o joelho esticado, é um movimento de passagem.



Q


QUATRE, PAS DE - Passo de quatro. Uma dança para quatro pessoas.


QUATRIÉME - Quarta , como em quarta posição



R


REPETITÉUR (ENSAIADOR)
É o assistente do maitre-de-ballet, ensaia as diversas partes da obra, variações, solos, grupos, corpo de balé e é também professor categorizado.


RELEVÉ – Elevar com a ajuda dos joelhos, levantado, erguido.


RETIRÉ – Retirado ou retraído, movimento em que se flexiona a perna para a 2ª posição, o joelho fica flexionado, deslizando a ponta do pé pelo lado da perna de apoio, até atingir a concavidade posterior do joelho.


RÉVÉRANCE- reverência, forma de agradecimento no término de uma aula ou espetáculo.


RONDS DE JAMBE – Movimento circular da perna


S


SAUTÉ – Saltar


SECONDE – Em segunda posição


SOUS-SOUS- È um releve na 5ª posição para frente, pés bem juntos no momento de levantar nas pontas ou meias pontas, dando a impressão de que é um pé só.


SOUTENU – Sustentado


SPOTING- Ponto. Fixação do olhar num ponto para movimentos giratórios.


T


TENDU – Esticado


TERRE (À) – No chão


TOMBÉ – Tombado, designação para o passo em que o corpo da bailarina cai para frente ou para trás em demi-plié na perna de movimento


TOUR - Volta. O mesmo que pirueta. Em geral as grandes piruetas são mais comumente chamadas tours. Exemplo, pirueta en attitude ou tour en attitude. Também as que são feitas em séries, como o tour piqué.


TOURNER- Girar


TOUR EN L'AIR - Volta no ar. Em geral, passo para o bailarino homem. Saindo de 5a posição (ou qualquer outra, em geral 2a ou 5a) no demi-plié, o bailarino dá um salto para cima com as pernas bem juntas ao mesmo tempo em que vira uma ou mais voltas no ar com o corpo.


TOURNANT, EN - Virando. Adicional aos passos que podem ser feitos com uma volta do corpo. Como, por exemplo, o assemblé soutenu, que pode ser simples (sem a volta) ou en tournant.


TROIS, PAS DE - Passo de três pessoas. Variação de dança feita por três bailarinos, em geral duas moças e um rapaz.


V


VALSE, PAS DE - Passo de valsa. O mesmo que balancé.


VOLÉ, DE- Em vôo , para passos em vôo


VARIATION- Variação, dança solo no ballet clássico




Att, Luiza Bandeira

domingo, 5 de setembro de 2010

Luiza Bandeira entrevista, Marcelo Misailidis 1º bailarino TMRJ


Um dos principais nomes do balé brasileiro o 1º bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Marcelo Misailidis está aqui hoje em uma entrevista exclusiva contando um pouco dessa bela carreira de sucesso.
     



LB: Marcelo você sempre sonhou em ser bailarino, ou foi uma coisa que aconteceu devido às influências do dia a dia?

  

MM: Não nunca sonhei ser bailarino, num determinado momento da minha vida o ballet me encantou por diversos motivos... minha primeira namorada fazia ballet e quando ia buscá-la aquele universo me envolvia, estar com ela a musica o movimento o romantismo...acabei apaixonado por a esse mundo.

Eu já apreciava muito musica clássica, arte de modo geral, praticava esportes e ao mesmo tempo queria fazer algo que fosse original e decidido espontaneamente por mim... foi assim que tomei coragem e iniciei o Ballet.






LB: Começou a estudar ballet no Uruguai ou aqui no Brasil? Qual a 1ª escola que estudou e quem foram seus professores? Que idade tinha nessa

época?

  

MM: Cheguei ao Brasil com 6 anos de idade, e comecei ballet quase aos 17 no interior de São Paulo numa cidade chamada Americana. A minha primeira professora achou que eu não teria futuro e após um mês me disse pra desistir. Fui então para Campinas estudar no Ballet Lina Penteado, por onde estudei 8 meses, la conheci um bailarino fantástico chamado Othon da Rocha, ele foi o primeiro a acreditar em mim e perceber que poderia crescer muito profissionalmente se viesse para o Rio de Janeiro. Naquele final de ano de 1985, desiludido com o fim de meu namoro decidi aceitar o convite dele para fazer um curso de ferias com Aldo Lotufo aqui no Rio. Este curso, naquele período mudou a minha vida. 








LB: Qual foi seu 1º solo e o que sentiu ao ser escolhido, qual foi a sensação de estar sozinho no palco pela 1ª vez?



  

MM: Engraçado, mas eu não tenho isso claro como uma lembrança relevante porque a ascensão para os meninos era muito mais rápido do que para as meninas que tem muita concorrência, a carência de bailarinos permitia que você obtivesse inúmeras oportunidades, a questão talvez seja oportunidade de se apresentar em um espetáculo de qualidade. Lembro que me marcou muito a primeira vez que interpretei Albrecht, direção da Eliana Caminada e Erik Valdo, depois 

o mesmo personagem no TM.







LB: Como ingressou no TMRJ e como chegou a 1ª bailarino?

  

MM: Recebi um convite em 1991 de Dalal Achcar que dirigia o Theatro Municipal, naquela ocasião retornava da abertura do Festival de Joinville daquele mesmo ano, no qual participei de três noites de abertura dançando uma noite com cada bailarina Ana Botafogo, Cecília Kerche e Nora Esteves. Pelo fato de ter me apresentado com êxito junto às três primeiras bailarinas, isto me credenciou tecnicamente apto a assumir o convite, que na ocasião despertou certa ciumeira e ate mesmo ira por parte de alguns bailarinos da casa que não queriam aceitar a minha contratação diretamente a primeiro bailarino.

  




LB: Percurso de bailarino para 1º bailarino, o que foi mais difícil, teve que abrir mão de muitas coisas, quais foram os maiores sacrifícios para ocupar tal posição?

  

MM: Acho que tive sorte e fui muito bem preparado na ABRJ (Associação de Bale do Rio de Janeiro) dirigida por Dalal Achcar que tinha na equipe o professor Jorge Siqueira e o metre Desmond Doyle. A primeira grande estrela que trabalhei foi a Nora Esteves ainda na ABRJ, portanto, não tenho do que reclamar... no entanto como mencionei na resposta anterior a chegada ao TM não foi nada tranqüila, alias nunca foi...






LB: Quem foram os professores e coreógrafos que mais contribuíram para sua carreira?

  

MM: Foram muitos, a formação de um bailarino profissional se faz na tradição e na convivência com grandes artistas, com quais se aprende muito com cada um deles, que acrescenta com sua visão artística e experiência de sua trajetória. Entre eles Aldo Lotufo, Eugenia Feodorova, Tatiana Leskova, Jorge Siqueira, Desmond Doyle, Erik Valdo, Rosália Verlangieri, entre outros, que muitas vezes trabalhei pouco tempo, mais contribuíram muito em diálogos e observações a respeito da dança ...

  





LB: Entre suas companheiras de palco Ana Botafogo é a mais presente, sempre é possível achar matérias que falem de balés realizados por vocês.

   Além da Ana existe alguma outra bailarina que você queira falar, que tenha sido importante para sua carreira e que tenha dividido o palco com você?

  

MM: Claro que a Ana foi a bailarina com quem mais convivi, mas seria injusto com as demais bailarinas não reconhecer a importância e a contribuição imensurável delas na minha formação, porque um espetáculo deve sempre ser apresentado pelos casais protagonistas com a maior intensidade possível, viver plenamente o momento da cena nas quais diversas vezes acontecem situações únicas que transformam a cena daquele momento, gerando uma maior doação dos interpretes e uma riqueza teatral maior ao espetáculo. Dividir a cena é fundamental para que nós mesmos possamos ser mais convincentes frente ao público, e mais felizes como profissionais e com certeza fui muito feliz com todas as minhas partners, seria mais fácil citar o contrario, com quem não me identifiquei, mas por uma questão de cavalheirismo e ética prefiro não citar ou comentar... obviamente reconheço que dancei proporcionalmente mais vezes com a Ana Botafogo do que com outras partners, em personagens de bales maravilhosos dentro e fora do TM o que pessoalmente muito me orgulha e realiza.

Mas, no entanto devo agradecer e citar alguns nomes em homenagem a cada uma delas com quem tanto vivi e aprendi.

Áurea Hamerlli, Beatriz Almeida, Betina Dalcanale, Cecília Kerche, Claudia Motta, Eliana Caminada, Fernanda, Laura Prochet, Márcia Jaqueline, Nora Esteves, Norma Pina, Roberta Fernandez, Roberta Marques, Silvina Perillo, Suzana Trindade entre outras caso tenha faltado aqui nesta breve lista.  A todas, o meu profundo agradecimento.

  






LB:Quanto ao preconceito o que é pior para um bailarino e qual foi o pior situação que você lidou por causa de pessoas preconceituosas?

  

MM: Não tenho nenhuma situação de preconceito que tenha presenciado que mereça algum destaque, acho que isto deve ter sempre sido algo velado, fruto de inveja por parte de pessoas que não tiveram coragem de se pronunciar ou mesmo pessoalmente dificuldades, de decidir por si mesmos suas escolhas e viver verdadeiramente o que se gosta.

  







LB: É fato que você fundou uma escola de danças em Juiz de Fora que carrega o seu nome. Porque Juiz de fora e qual a proposta oferecida pela, ela é pública, particular, oferece bolsas, procura novos talentos... Enfim o que acontece por lá?

  

MM: Sim, já tenho uma Escola de Dança em Juiz de Fora a mais de 13 anos em parceria com a minha mulher Danielle Marie.

A proposta é buscar oferecer um ensino de melhor qualidade, a todo aquele que tenha interesse de aprender ballet clássico de modo mais comprometido com uma formação séria, sem focar aspectos meramente comercias. A escola é particular, mas oferece bolsa a crianças talentosas, e tem um grande comprometimento com a responsabilidade de como trabalhar e cuidar do corpo do bailarino e da educação do aluno como um todo.

  










LB: O TMRJ e a sua vida, qual a importância desse lugar, e o que te deixa triste no TRMJ?



MM: Para qualquer bailarino clássico no Brasil, dançar no TM ainda é o objetivo profissional mais importante, comigo não foi diferente.

Grande parte da minha vida profissional se deu ali, grande parte da minha vida pessoal também teve sua interface no TM, portanto isto o torna uma referencia muito forte em minha vida.

O problema é talvez exatamente este, que o TM não pode ser visto ou compreendido como algo ao qual possamos estreitar tanto assim estes laços, porque cada um deve ter sua vida pessoal totalmente desvinculada do TM, limitar-se a ele unicamente de modo profissional, e reservar os demais vínculos emocionais independentes ao Teatro, que não pode e não deve confundir sua finalidade.

Esta confusa relação feita entre pessoas e o TM, é que invariavelmente deixa as pessoas infelizes e amargas. Não conheço quem tenha passado por lá, e que não tenha saído sem alguma magoa ou ressentimento. Isto se dá muitas vezes, por não se compreender que aquele espaço é da sociedade como um todo, e trabalhar nele deve ser encarado como motivo de privilégio, gerando no coração do artista generosidade, alegria e respeito e não um estranho sentimento de possessividade, egoísmo e apatia a tudo aquilo que não represente conveniência pessoal.

O TM é um templo para sonhar, e o equivoco pode muitas vezes levar o mesmo a um pesadelo.

  







LB: Trabalhos mais importantes no Brasil e exterior?



MM: Acho que a maior parte do repertorio do TM, Giselle, Megera Domada, Onegin, Romeu e Julieta, Dom Quixote, etc.

Nijinsky, trabalho solo dirigido por Fabio de Melo.

Romeu e Julieta de Tchaikovsky na versão de Marila Gremo e depois numa versão que eu mesmo coreografei pra mim e Ana Botafogo.

Meus trabalhos como coreógrafo em Comissões de Frente no Carnaval.

  





LB: Repertórios preferidos?



MM: Se tivesse que escolher um seria Eugenie Onegin

  





LB: Bailarinos e bailarinas que te inspiram, do passado aos dias de hoje?

  

MM: V. Vassiliev, M. Baryshnikov, R. Nureyev, Maia Plissietskaya, etc., e principalmente os

brasileiros Aldo Lotufo e Bertha Rosanova ( isto sim e que me inspirou),

Othon da Rocha, Ana Botafogo, Beatriz Almeida, Cecília Kerche, Nora Esteves e demais lista acima.

  





LB: Melhores momentos de sua carreira?

  

MM: Quase todos, eu amei de verdade.


LB: O que você não faria de novo por causa do ballet?
  

MM: O que eu não faria, não diria assim porque seria demais, mas diminuiria algumas noitadas, afinal de contas sou um artista um tanto às avessas, gosto vez por outra de uma boemia refletir e planejar projetos, jogar conversa fora até mais tarde quando o assunto é bom.

  






LB: Atualmente qual sua posição no TMRJ, e como andam seus projetos para o futuro?

  

MM: Sou artista concursado, com quase 20 anos de serviços prestados, de bailarino a diretor artístico do BTM, atualmente estou à disposição da direção para atuar no staff artístico da casa.

  






LB: Um conselho de alguém tão importante como você é extramente valido para tantos jovens rapazes que sonham em se tornar bailarinos, mais infelizmente estão cercados de preconceitos e dificuldades.

  

MM: Acredite nos seus sonhos, a vida é uma oportunidade para se realizar os sonhos, e não para meramente desejá-los.

  

LB: Como de costume uma mensagem sua para nossos leitores.



MM: Foi um prazer dividir este momento com vocês e partilhar de opiniões e experiências a respeito da minha vida e do bale de modo geral. Um grande abraço a todos.



                                                                                       Com carinho sua fã Luiza Bandeira.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Eric Valdo, 81 Anos de dança e vida


 Eric Valdo , bailarino solista do Corpo de Baile, maître-de-ballet da companhia de 1970 e 1978 e de 1996 a 1998, na gestão de Jean-Yves Lormeau (étoille do Ballet da ópera de Paris, diretor do Corpo de Baile do Theatro Municipal entre 1996 e 1999), diretor do Balé Guairá em 1978 e 1979, diretor artístico da Cia de Dança Rio, entre outras .

   Dia 13 de julho aniversário desse  grande mestre da dança brasileira.

Querido Eric q essa luz que brilhou nos palcos durante tantos anos continue brilhando em nossas vidas para sempre. Uma estrela como vc nunca se apaga feliz 81 anos de mt talento .

 Fecidades, Luiza Bandeira e  mundo da dança.


Em breve uma super matéria com o Eric Valdo. bjus luiza

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Eliana Caminada


Entrevista com a Bailarina Eliana Caminada,Bailarina, coreógrafa e maîtresse-de-ballet, registrada pelo Ministério do Trabalho / http://www.elianacaminada.net

 

"Meu amor está alicerçado na convicção de que o ballet não é apenas uma arte universal e atemporal; ele é também uma técnica secular, que ainda não foi - e creio que nunca será - superada como instrumento para conferir ao corpo plasticidade, expressividade e autonomia.

A dança, pensada e aplicada como atividade subordinada a essa técnica baseada na razão e na imaginação criadora, é capaz de transformar a opção pelo palco numa realização corporal, espiritual e psicológica de prazer. Mais do que isso, o ballet, é uma dança profundamente reveladora do interior do artista, traiçoeira, até, quando nos julgamos senhores do que transmitimos. O ballet é a dança da honestidade, do longo e seguro caminho que envolve uma erudição quase purificatória.”

 

                                                                                                                                  Eliana Caminada

 

 

Entrevista:

 







 
 LB: Eliana com que idade sua história começou com o Ballet, e quando você percebeu que queria viver de dança, se tornar uma bailarina profissional?

EC: Comecei a estudar ballet – ballet mesmo, não baby-class ou pré-ballet – aos 5 anos de idade, com Sandra Dieken, até hoje uma espécie de mãe e professora. Atualmente, já não se indica o ensino da técnica de ballet clássico para crianças tão pequenas. 

Desde os 3 anos, quando assisti Coppélia, com o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo Tamara Capeller no papel principal, eu quis estudar ballet. Mais: eu quis ser bailarina clássica.

Foi um encantamento definitivo, nunca pensei em ser outra coisa. Parece lenda, mas é a mais antiga recordação que tenho da minha infância, o que vale dizer que não me lembro da vida sem ballet. Aquele tutu, a bailarina na ponta, a música, a orquestra, a história do ballet, o prédio magnífico do Theatro Municipal, o rito que precede o espetáculo, tudo isso exerceu sobre mim, para sempre, um fascínio indescritível.





LB: Houve alguma influência familiar para que você se tornasse bailarina ou foi simplesmente sonho de criança?  Família, apoio incondicional, ou sua trajetória com a dança foi solitária como a de muitos jovens bailarinos que vemos hoje? E o você tem a dizer para estes jovens.

EC:  Houve sim, muito estímulo de meus pais, de minha família toda, no sentido de me apoiar na decisão de ser bailarina. Tive uma criação, sob o ponto de vista cultural, muito rica. Teatro de prosa, concertos, óperas, ballets, meus pais viam tudo e me levavam junto com eles. Li desde que aprendi a ler e isso me valeu quase que como uma formação superior. Ainda leio compulsivamente sobre tudo. 

Minha trajetória jamais foi solitária. 






LB: Você se formou na Escola Estadual de Danças Maria Olenewa. Quantos anos levou para se formar e quais foram os melhores e piores momentos na escola de danças?

EC: Eu me formei na EEDMO em muito pouco tempo. Entrei para o 2º ano médio, tirei grau 10.0 no exame final e pulei para o 1º ano técnico. Quando estava nesse ano do curso técnico o Corpo de Baile abriu concurso. Eu ia fazer 16 anos, mas prestei o concurso e fui aprovada em 2º lugar. Fui, então, liberada da Escola para cursar apenas as matérias complementares. No ano seguinte, 2º técnico, era estágio no Corpo de Baile. Formei-me nesse mesmo ano, dançando a 1ª variação de Paquita de Petipa/Balanchine. No ano seguinte eu prestei novo concurso para o Theatro e, dessa vez, fui aprovada na primeira colocação e tornei-me efetivamente bailarina do Theatro Municipal. 




LB: Sabemos que você se formou em outras escolas, conte um pouco para nós de como foi esse período de formação e quais foram essas escolas. 

EC:Estudei particularmente com Dina Nova, Nina Verchinina e Tatiana Leskova, que foi minha professora para sempre. Quando me casei com Eric Valdo ele também orientou minha carreira e me ensinou muito do que sei e do que consegui fazer no mundo da dança. Mas costumo dizer que completei minha formação como bailarina do Theatro Municipal. Um teatro com o perfil do Municipal enriquece qualquer biografia, completa qualquer formação. Lá dentro você vai ouvir, dançar, cruzar, olhar, um mundo, o mundo da arte cênica. É muito mais do que dançar ballet.

 





LB: Mestres foram muitos e significativos, mas nessa longa carreira tem sempre alguém que nos deixa recordações e ensinamentos que levamos para o resto da vida. Quem foram eles?

 

EC: Sinto profunda gratidão e carinho por William Dollar, um grande mestre e grande coreógrafo, e por Jorge Garcia, o diretor que, de fato, gostou de mim como bailarina. Gostaria de citar, também, Consuelo Rios, minha primeira professora na Academia Tatiana Leskova, e Renée Wells, que me orientou no ano que passei na Escola de Danças. 

 



LB:
Parceiros de Palco é assim que encontramos em uma das belas páginas do seu site:

 

 "No camarim, as rosas vão murchando

E o contra-regra dá o último sinal.

As luzes da platéia vão se amortecendo

E a orquestra ataca o acorde inicial.

No camarim, nem sempre há euforia

Artista de mim mesma, não posso fracassar.

Releio os bilhetes que pregados no espelho

Me pedem que jamais eu deixe de 'dançar'..."

                                                                                                                            HERMÍNIO Belo de Carvalho

 

 






LB:Quem foram eles e o que significaram para sua vida e carreira?

 

EC: Ah, eu amei meus companheiros de palco. Ficava, sempre, sinceramente encantada de vê-los, aplaudi-los da coxia, torcer por eles, dividir com eles expectativas, sonhos, sucessos, eventuais fracassos. Muito marcaram minha vida. Poderia mencionar Fernando Bujones e Gregory Ismailov, com quem dancei Coppélia na íntegra, e Eric Wenes, com quem dancei Flower Festival in Genzano, mas certamente, muito mais importantes em minha vida foram: Aldo Lotufo, nossa maior referência da dança masculina no Brasil, com que tive a honra de dançar no encerramento de sua carreira; Othon da Rocha Neto, um ser querido, grande intérprete, uma vocação para a dança; Fernando Mendes, um talento excepcional; Jair Moraes, querido primeiro-bailarino, mais que isso, sinônimo do Balé Guairá; Marcelo Misailidis, um sopro de juventude e talento nos últimos anos de minha carreira;Antonio Bento, meu maior e mais querido amigo, entre outros.  

 





LB: Ballets de repertório, muita gente não sabe o que é e não entende quando falamos deles. Conte sobre os ballets que dançou, os mais importantes, e como também é professora de história da dança explique para nossos leitores o que seria um ballet de repertório.

 

EC: Dancei muita coisa bela, mas guardo especial carinho por Coppélia, Les Sylphides e Giselle. A par desses clássicos de repertório, considero-me premiada por ter podido interpretar Romeu e Julieta de Maryla Gremo, uma grande e desconhecida coreógrafa do Theatro Municipal. Também não poderia deixar de mencionar as obras de Dollar, Magnificat de Oscar Araiz, os ballets que Eric criou para mim e clássicos como o pas hungrois de Raymonda. Pode-se considerar como ballet de repertório àquelas obras que adquiriram a condição de patrimônios da humanidade. Para isso, costuma-se considerar há quanto tempo a obra é encenada e por que companhias e bailarinos foi dançada. Um ballet criado há mais de 5 décadas, dançado no mundo inteiro, por grandes companhias profissionais e grandes bailarinos é, por certo, um ballet do repertório universal. Existem obras que só são encenadas em determinado país, são repertório local, não adquiriram caráter de universalidade. 




LB: Theatro Municipal RJ, uma grande história de amor entre você e esse lugar. O que o Theatro Municipal representou e representa na sua vida como bailarina?

 

EC: Não saberia separar minha vida totalmente do Theatro, até porque me casei com bailarino da casa, fiquei noiva na porta dos fundos do Theatro, ali realizei alguns de meus sonhos, recebi minhas primeiras flores e críticas como bailarina profissional, aprendi a maior parte do que hoje se constitui a minha bagagem artística. 

 





LB: Companheiros na vida e dança. Fale um pouco desses tantos amigos que contribuíram para sua vida na dança se tornasse mais feliz.

 

EC: Não dá, são muitos. Especialmente, e tenho medo de estar esquecendo amigos queridos, Karin Scholleterbeck, Norma Pinna, João Wlamir, Cesar Lima, Vera Aragão... E mais Aldo Lotufo, Cristina Martinelli, Regina Ferraz, Ana Botafogo, Nora Esteves, Chico e Melissa Timbó, Laura Prochet, Carlos Cabral, Lydia Costallet, ah, são tantos. Toda a turma do Teatro Municipal de Niterói, a turma que se formou na UniverCidade, composta de bailarinos dos teatros municipal do Rio e de Niterói, do Balé Guaíra, do Centro de Dança Rio, do Festival de Joinville.  Sem falar nos que já não estão entre nós. Nossa, ocuparia seu blog inteiro. 

 





LB: Eliana por Eliana, quem realmente é essa mulher bailarina maravilhosa que tantos já ouviram falar?

 

EC: Sou uma mulher que viveu intensamente, que não abriu mão de nada. Que se casou com um homem maravilhoso, meu companheiro há 43 anos, com quem tenho um filho, Roberto, que nos dará, agora, dois netinhos. Uma mulher que jamais colocou em dúvida sua escolha profissional, que mais do que talento ou atributos físicos tinha e tem vocação para a dança. Uma mulher que teve em seus pais e em sua família seu grande ponto de equilíbrio. 

Mas, sobretudo, uma mulher casada com a dança. Foi através do ballet que me fiz adulta, esposa, mãe, profissional, professora, cidadã.

 

 

 






LB: Para aqueles que estão começando, em sua opinião que caminho seguir para se tornar um bailarino (a) e o que não deve se fazer numa carreira como essa?

 

EC: Aos que estão começando eu diria que precisam perceber se realmente são vocacionados. Decidido isto, coloquem-se à disposição da dança, com humildade. Não tentem se impor à dança, mas que permitam que a dança aponte o  deseja de cada um de vocês. Que tentem entender se o seu lugar para melhor amar a dança é estar dentro ou fora dela, no palco ou na platéia. E que estudem, estudem, estudem. Leiam, leiam, leiam. Bailarinos têm fama de bonitos e nada pensantes. Precisamos mudar essa idéia, porque vivemos num mundo dominado pelo discurso acadêmico. E que estudem a história de sua profissão, que não se permitam não saber, não conhecer os grandes fatos da história, os grandes nomes, as grandes obras. Que saibam como chegamos até aqui.


O que não se deve fazer? Encarar a dança como uma ginástica, uma mera superação de marcas atléticas. Ballet é arte, é sensibilidade, é poesia, não é pernas na cabeça, quantidade de giros, virtuosismo gratuito, fogos de artifício. Olhem para Cecília Kerche. Ali estão os atributos físicos à serviço da qualidade da arte de dançar. 

 





LB: Eliana homenageia....

EC: Os bailarinos brasileiros. 








LB: Uma mensagem especial aos amantes da dança no mundo.

 EC: O ballet é uma arte viva da criação, talvez a maior criação do homem. O ballet não morrerá jamais e, se existir paraíso, haverá ballet nele. 

                                                                                                                             Eliana Caminada

                                                                                                                              c/ amor Luiza Bandeira